Crack: "Fazia roleta-russa com um revólver calibre 22"
Henrique Skujis e Maria Paola de Salvo | 02/06/2010
“Meus pais sempre foram muito rígidos. A primeira vez em que me autorizaram a viajar sozinho, fui para Maresias e experimentei maconha. Dois anos depois, cheirei cocaína. Quando a gente se mudou do Butantã para a Granja Viana, pedi ao pessoal da minha classe para não deixar de me chamar quando fossem fumar um. O problema é que logo na primeira vez me falaram que a droga era outra, o crack.
Fomos até a favela, em Carapicuíba, compramos, e eu experimentei. Em menos de dez segundos, meu corpo relaxou e comecei a suar frio. Foi uma enorme e rápida sensação de prazer. Daí você logo quer mais. No fim de semana seguinte, estávamos na favela de novo. Na terceira vez, já ia para lá sozinho. Passei um ano inteiro usando quase todos os dias. Perdi 12 quilos e fui demitido de um restaurante bacana no Itaim, onde trabalhava como chef (P.F. é formado em gastronomia pela FMU). Chegou um dia em que não queria mais usar. Mas não conseguia parar. Ia para a boca comprar chorando.
Um amigo meu se enforcou, outro pulou do prédio. Eu também queria morrer. Fazia roleta-russa com um revólver calibre 22 e cheguei a tomar uma caixa de ansiolítico. Fiquei três dias na UTI. Já tive duas recaídas, mas quero esquecer tudo isso. Estou limpo há seis meses.”
Um amigo meu se enforcou, outro pulou do prédio. Eu também queria morrer. Fazia roleta-russa com um revólver calibre 22 e cheguei a tomar uma caixa de ansiolítico. Fiquei três dias na UTI. Já tive duas recaídas, mas quero esquecer tudo isso. Estou limpo há seis meses.”
P.F., 31 anos, chef de restaurante. Ele passa o dia (9h às 18h) na Clínica Alamedas, na Alameda Franca. Paga 350 reais pela diária e mais 150 reais pelo acompanhamento de um terapeuta no período em que está fora dali
Crack: "Em três tragos, estava viciado"
Henrique Skujis e Maria Paola de Salvo | 02/06/2010
“Sou de um tempo em que usar maconha era sinal de contestação. Sempre tive uma vida boa. Filho de sociólogos, morei seis anos nos Estados Unidos. Saía do Colégio Equipe, onde estudava, e ia fumar um baseado com os amigos. Não demorou muito e experimentei cocaína, aos 17 anos.
Aos 20, virei comissário de bordo da Varig e passei a fazer voos internacionais. Cheirava carreirinhas de pó até voando, mas ninguém percebia. Era possível entrar em todos os países com a droga. Depois da quebra da Varig, fiquei sem emprego. Passei a trabalhar como tradutor e, em 2005, comprei um táxi. Circulava de madrugada e levava prostitutas para comprar droga. Um dia, uma delas me ofereceu crack. Bastaram três tragos para eu me viciar. Ia para o motel, me trancava no quarto com minha namorada e consumia umas catorze pedras.
Gostava de fumar uma enorme, chamada “juremona”, que custa 100 reais. Cheguei a gastar 500 reais num único dia. Vendi meu paraglider, que era a coisa que mais amava. Fui perseguido duas vezes por policiais e, numa delas, acabei na delegacia. Por falta de concentração, não conseguia mais traduzir textos nem tinha vontade de guiar. Internei-me pela primeira vez em novembro do ano passado. Fiquei limpo por uns quatro meses. Recaí e voltei a me internar em abril.”
A.D., 44 anos, dois filhos, tradutor, ex-comissário de bordo da Varig
A.D., 44 anos, dois filhos, tradutor, ex-comissário de bordo da Varig
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