NOSSAS EXPERIÊNCIAS: 2012-03-11

16 de mar. de 2012

                                    A VOLTA  DO TRÁFICO HUMANO.


Ariana*, 16 anos, conheceu Burim na cidade albanesa onde morava com a mãe. Por ser ele oito anos mais velho, ela se sentiu lisonjeada pela atenção com que o rapaz a tratava. Quando Burim lhe contou que tinham oferecido a ela um bom emprego numa fábrica de produtos químicos perto de Florença, Ariana partiu com ele.

Mas, dois dias depois, na casa de Burim na Itália, ela descobriu um armário cheio de roupas sensuais e uma embalagem de preservativos. Nunca vira um preservativo. Burim explicou que aquele material pertencia a outra moça. Quando Ariana quis guardar tudo no sótão, ele disse: “Pode deixar aí mesmo. Você vai precisar.”

A vida de Ariana se tornou um pesadelo de sexo com estranhos à noite e surras e estupros de Burim durante o dia. Tentou fugir, mas ele sempre a encontrava. Por fim, Burim a levou para um bordel em Earls Court, Londres.

Vladimir, um russo, tinha 20 e poucos anos quando respondeu a um anúncio que prometia um bom salário a operários de construção civil, empregados domésticos e intérpretes, na Europa Ocidental. Assinou o contrato de trabalho, mas, quando chegou à Holanda, descobriu que o emprego não existia. Em vez disso, ficou refém do traficante, que exigia o pagamento de uma taxa altíssima de transporte e administração, numa escravidão por dívidas.

“O sujeito afirma que lhe devo 50 mil euros”, diz Vladimir. “Como pagar uma quantia dessas? Como posso me libertar?”

Mais de 200 anos depois que o tráfico de escravos começou a ser abolido, há 12,3 milhões de adultos e crianças forçados a trabalhar e a se prostituir no mundo inteiro. Ariana e Vladimir são apenas duas vítimas do tráfico ilícito de seres humanos, que, segundo consta, gera, mundialmente, 44 bilhões de dólares. É o terceiro maior negócio criminoso do globo, depois das drogas e do contrabando de armas.

Na Europa, o tráfico de seres humanos atingiu proporções epidêmicas, estimulado pelo colapso do comunismo, pelo incremento da União Europeia e pela implementação do Acordo de Schengen, que afrouxou os controles de fronteira em 25 países. “Ao contrário do contrabando de pessoas, no qual o indivíduo paga a alguém para levá-lo a algum país, o tráfico de seres humanos se concentra em explorar os outros; as pessoas são forçadas a trabalhar e morar em péssimas condições, com pouca ou nenhuma liberdade; às vezes, os passaportes lhes são tirados ou elas ficam presas por dívidas e recebem pouco ou nenhum pagamento. Essa forma de exploração aparece na indústria do sexo, no serviço doméstico e no mercado de compra de noivas, mas também em setores trabalhistas regulamentados, como a construção civil e a agricultura. É uma das mais graves violações de direitos humanos hoje”, diz Suzanne Hoff, coordenadora da La Strada International, rede europeia de ONGs que combate o tráfico humano.

Estima-se que 250 mil pessoas por ano são capturadas por traficantes na Europa. Acredita-se que 10% sejam crianças. É um negócio de 3 bilhões de dólares anuais. Os traficantes compram e vendem pessoas dentro e fora das fronteiras como se comercializassem cavalos

A La Strada trabalha nos principais “países de origem” das quadrilhas, como Bielorrússia, Bósnia e Herzegovina, Bulgária, República Tcheca, Macedônia, Moldávia, Polônia e Ucrânia. Também trabalha com os que estão escravizados no Ocidente. A Holanda é um dos principais destinos do tráfico na Europa, além de Alemanha, Itália, Espanha, França, Bélgica, Escandinávia e Reino Unido.

Relatórios não oficiais afirmam que, todo ano, cerca de 50 mil cidadãos russos são vendidos no exterior e explorados como trabalhadores do sexo na Europa Ocidental, no Oriente Médio e na América do Norte. Da Polônia são 15 mil, da Hungria, 30 mil. Na Albânia rural, os pais temem mandar os filhos à escola, com medo de que os traficantes os sequestrem.

Na Alemanha, que é destino e país de trânsito no mapa global do tráfico, as moças romenas que pensam que vão trabalhar em restaurantes ficam presas num novo estilo de bordel no qual se oferece aos fregueses “sexo a preço único”, em que 100 euros por dia dão direito a todas as moças que quiserem pelo tempo que desejarem. Em julho de 2009, numa batida numa boate de Fellbach, perto de Stuttgart, os policiais acharam 179 homens e 89 mulheres. Muitas moças afirmaram ter menos de 21 anos.

Num dos casos, explica Sanne Kroon, diretora de comunicação da Bonded Labour in the Netherlands (Trabalho Servil na Holanda, BLinN), entidade que ajuda as vítimas do tráfico a reconstruir a vida: “Uma moça que era coagida a se prostituir recebeu uma foto do filho de 1 ano com o seguinte recado: ‘Sabemos que ele está com os seus pais. Imagine o que podemos fazer com ele.”

O tráfico de seres humanos não seria tão generalizado e insidioso se não houvesse tantos empregadores inescrupulosos nos países de destino: donos de boates, fazendeiros, proprietários de fábricas, de lojas, construtoras, empresas de eventos e donos de restaurantes que empregam as vítimas do tráfico pagando bem menos do que o salário mínimo e sem nenhuma preocupação com sua saúde e segurança.

“São todos traficantes”, diz Herman Bolhaar, promotor público de Amsterdã. “Esse é um problema complexo que envolve o crime organizado e as pressões socioeconômicas que levam as vítimas para as mãos dos traficantes. A reação da polícia, dos advogados, dos governos e das ONGs tem de ser proativa, concentrada e coordenada.” Bolhaar encabeça a Força-Tarefa Contra o Tráfico de Pessoas, grupo de policiais, promotores, prefeitos e políticos que coordena essa luta.

Mas, em lugares como a Holanda, onde a prostituição é legalizada, não é fácil distinguir quem trabalha voluntariamente de quem é coagido. “É por isso que o Caso Sneep é um marco tão importante”, diz Bolhaar. Tudo começou em 2006, quando uma polonesa foi à polícia de Amsterdã e disse que ela e outras moças de países como Polônia, Bulgária e Romênia eram obrigadas a trabalhar como prostitutas na área dos bordéis, destino de umas 4 mil vítimas do tráfico por ano. “Tinham lhe tirado o passaporte, e ela era obrigada a pagar aos cafetões mais de mil euros por dia, sete dias por semana”, acrescentou ele. As moças que não ganhavam o suficiente costumavam ser estupradas, surradas com bastões de beisebol e depois jogadas em banheiras de gelo, a fim de minimizar as manchas roxas, para logo serem postas de novo a trabalhar. Outras eram marcadas com tatuagens para que todos soubessem que pertenciam aos irmãos turcos Saban e Hasan Baran.

Uma operação de vigilância se espalhou por Haia, Utrecht, Alkmaar e Vinkeveen, e os irmãos foram presos, junto com seis cúmplices. Nove vítimas, algumas delas no programa de proteção a testemunhas, deram depoimento em 2008. Hasan, 43 anos, e Saban, 38, tinham um império de tráfico de pessoas e drogas que incluía a Bélgica e a Alemanha. Acumularam milhões de euros em quatro anos. Saban foi condenado a sete anos e meio de prisão e mais oito por tentativa de assassinato. Hasan foi preso por dois anos e meio, mas entrou com recurso.

“Eram umas 120 vítimas”, diz Bolhaar. “Lidamos com casos de tamanha brutalidade que nos sentimos na obrigação, para com as possíveis futuras vítimas, de fazer soar o maior alarme possível. Agora, quando mencionamos o Caso Sneep, todos sabem que falamos de ações contra os traficantes.

Embora em 2009, no mundo inteiro, tenham sido instaurados 4.166 processos contra o tráfico, só 335 diziam respeito a trabalhos forçados. Mas a construção civil, a agricultura, os portos, os setores de alta periculosidade e a escravização doméstica, e não os bordéis, são o destino de mais de 50% das vítimas de tráfico. Na legislação internacional, o trabalho forçado é considerado crime grave. Mas na Europa as condenações por tráfico de mão de obra caíram de 80 em 2007 para apenas 16 em 2008, embora tenham chegado a 149 em 2009.

Roger Plant, que, até 2009, era diretor em Genebra do Programa de Ação Especial de Combate ao Trabalho Forçado, da OIT, afirma que os órgãos europeus de repressão ao crime estão “acordando [...] para delitos flagrantes”.

Os agentes de viagem descrevem a província de Foggia, em Apúlia, no sul da Itália, como “paraíso do turismo de verão”. Para os que moram nas regiões mais pobres da Polônia, os anúncios que prometiam empregos bem pagos de 6 euros por hora mais alojamento e alimentação, no próspero setor agrícola de Foggia, exerciam atração irresistível. No entanto, depois de uma viagem cansativa, Stanislav Fudalin, 51 anos, explicou que foi recebido por um capataz ucraniano que trabalhava para os fazendeiros locais. O capataz lhe disse: “Eu faço as regras aqui. Vocês são meus escravos. Se tentarem fugir, vou atrás de vocês para matá-los. Vocês vão voltar para a Polônia num saco de lixo.”

Fonte: http://www.selecoes.com.br

15 de mar. de 2012


                   DA DROGA PARA A LAMA.


Imagens chocantes mostram a destruição física de viciados.

Depois de algum tempo, os cabelos já não são os mesmos. O rosto perde a cor. As bochechas somem. Os dentes caem.  A pele ganha manchas, olheiras, rugas, machucados. Os olhos perdem completamente o brilho.

Esses são os efeitos físicos mais visíveis causados pela uso de drogas pesadas, incluindo cocaína, heroína e metanfetamina – como você pode ver nas chocantes imagens abaixo.

As fotos à esquerda mostram viciados em drogas ao serem presos pela primeira vez. As da direita revelam as mesmas pessoas algum tempo depois, durante a segunda, terceira ou quarta passagem pela cadeia. As imagens foram organizadas pelo gabinete do xerife do Condado de Multnomah, no Estado de Oregon, nos Estados Unidos, com o objetivo de alertar a população para os efeitos reais das drogas.


SÃO APENAS EFEITOS FÍSICOS.IMAGINEM OS EFEITOS PSICOLÓGICOS.

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Diferença de 7 anos 
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Diferença de 3 anos 
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Diferença de 3 anos 
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Diferença de 4 anos 
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Diferença de 2 anos 
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Diferença de 11 anos 
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Diferença de 8 meses
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Diferença de 1.5 meses 
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Diferença de 2.5 anos 
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Diferença de 1 anos 
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Diferença de 4 anos.
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Diferença de 7 anos 
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Diferença de 6 meses 
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Diferença de 4 ano 
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Diferença de 3 meses 

                   ASSUSTADOR,NÃO?! 

Fonte : http://www.veja.abril.com.br

 

A SOLIDÃO COLETIVA DE MULHERES PRESAS

por Alice Marcondes, especial para EnvolverdeMulher presa 300x195 A solidão coletiva de mulheres presasAs prisões são um universo paralelo, onde as pessoas vivem sua solidão em relações baseadas no medo, na violência e na angústia das incertezas.


Quando iniciou sua atuação em uma penitenciária feminina da cidade de São Paulo, a psicóloga Fernanda Cazelli Buckeridge, do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP), não tinha como objetivo analisar o cotidiano das presas, porém, a convivência atraiu seu interesse para o assunto. De sua participação durante um ano em oficinas psicossociais realizadas por uma ONG, surgiu a pesquisa “Por entre as grades: um estudo sobre o cotidiano de uma prisão feminina”, que teve como resultado um retrato da realidade de solidão que preenche o dia a dia das detentas.

“São muitas mulheres que estão juntas e sozinhas ao mesmo tempo. É unânime um sentimento de que não se pode confiar em ninguém. Talvez a posição de sigilo que tínhamos nas penitenciárias tenha sido um fator estimulante para que elas se abrissem mais. Percebemos que casos de amizades construídas lá dentro são muito raros. Devido ao ambiente de violência em que vivem, elas têm sempre a preocupação de não demonstrar fraqueza, o que dificulta a criação de vínculos. Evitam chorar e não se sentem a vontade para expressar suas opiniões, até por medo de facções criminosas dominantes. As únicas situações em que vimos quadros diferentes foram nos momentos em que alguma delas estava com problemas de saúde ou em trabalho de parto. Nestas situações, elas demonstram solidariedade umas com as outras”, comenta a psicóloga.

As detentas são em sua maioria jovens, com idades entre 18 e 30 anos, e de uma classe social baixa. O tipo de crime que as levou para lá varia bastante, mas os mais comuns são tráfico de drogas e tentativa de entrarem em prisões masculinas com artefatos para seus maridos. “O fato de muitas delas terem seus companheiros também detidos influencia em outro ponto que agrava a situação de solidão, que é o baixo número de visitas que elas recebem. Porém, mesmo quando não estão presos, não é comum que os parceiros estejam presentes. Os filhos também não são comumente vistos, pois a maioria delas prefere assim. Temem passar um mau exemplo, acreditam que não é um bom ambiente e consideram o procedimento da revista muito invasivo. Isto faz com que os laços com o mundo exterior sejam enfraquecidos. Sem ter como amenizar a situação por meio de novas amizades, elas sentem-se solitárias”, diz Fernanda.

Outra situação diagnosticado pela pesquisa foi o forte sentimento de angústia demonstrado pelas detentas que ainda não foram julgadas. “É muito difícil para elas não saber quanto tempo ficarão lá. Depois que são julgadas e têm uma sentença, esta aflição passa e fica mais fácil para elas encararem a situação”, lembra a pesquisadora.

Para Fernanda, um dos pontos mais importantes de sua pesquisa é a humanização da questão. “É muito comum que essas mulheres sejam enquadradas pela sociedade em estereótipos extremistas. Ou elas são vítimas e cometeram crimes porque não tiveram escolha, ou têm uma natureza ruim e merecem castigos severos. Porém, a convivência nos mostra que esta teoria não se sustenta. É preciso entendê-las individualmente. A pesquisa levanta pontos relevantes que deveriam ser considerados. Ao mesmo tempo em que fala-se tanto em direitos humanos, existe também uma parcela da população que pede castigos mais rígidos. A sociedade deveria encarar essas presas de maneira humana, pois isso facilitaria um melhor entendimento sobre o contexto social em que vivemos”, conclui a psicóloga. (Envolverde)

fonte: http://www.envolverde.com.br/


14 de mar. de 2012


CÁRCERE FEMININO.

       MAIS DE 15 MIL MULHERES FORAM PRESAS,EM CINCO ANOS.


Nos últimos cinco anos, 15.263 mulheres foram presas no Brasil. 

A acusação contra 9.989 delas (65%) foi de tráfico de drogas.
 
Esses dados foram apresentados, nesta quarta-feira (29/6), 
pela socióloga Julita Lemgruber,durante o Encontro Nacional 
do Encarceramento Feminino,que o Conselho Nacional de Justiça 
realizou em Brasília.

A socióloga, ao afirmar que essas mulheres atuam como pequenas 
traficantes 

– geralmente apoiando os companheiros – defendeu a adoção de penas 
alternativas à de prisão para que elas possam retomar a vida e, 
principalmente, criar os seus filhos. 

“Essas mulheres desempenham um papel secundário no tráfico; 
muitas vezes são flagradas levando drogas para os companheiros 
nos presídios. 
Elas não representam maiores perigos para a sociedade e poderiam 
ser incluídas em políticas de reinserção social”,disse Lemgruber, 
que foi a primeira mulher a chefiar a administração do sistema 
carcerário do estado do Rio de Janeiro.

“Além disso, quando o homem é preso,os filhos ficam com suas mulheres. 
Mas quando a mulher é presa, geralmente o companheiro não fica com os 
filhos, que acabam sendo punidos e passam a ter na mãe um referencial 
negativo. 

Essa é uma situação que tem tudo para reproduzir a criminalidade, 
já que essas crianças poderão seguir o mesmo caminho que os pais”, 
analisou a socióloga.

Ela alertou para o fato de o percentual de mulheres presas estar 
crescendo numa velocidade superior ao que ocorre com os homens. 
“Esse é um fenômeno mundial. 

Historicamente as mulheres representavam entre três e cinco por cento 
da população carcerária mundial. 
Nos últimos anos esse percentual chegou a 10%”, disse, acrescentando 
que esse aumento tem agravado os problemas das mulheres no cárcere.

“É bastante comum o fato de as mulheres não disporem de qualquer 
assistência diferenciada. 

São tratadas como homens, tanto em termos de estrutura das prisões 
como também em relação ao tratamento que é dispensado a elas. 
Um exemplo muito triste é que, em muitos casos, elas não têm acesso 
a um simples absorvente quando estão menstruadas. 
São obrigadas a improvisar usando miolo de pão”, declarou Lemgruber.

O conselheiro Walter Nunes da Silva Júnior,do CNJ,afirmou que o Brasil 
desconhece a realidade das mulheres que estão presas no País. 

“A questão carcerária, de um modo geral e, em particular, a relacionada 
às mulheres privadas de liberdade,só passou a ser discutida pela sociedade 
em função dos mutirões carcerários realizados pelo CNJ”,disse o conselheiro, 
referindo-se às inspeções feitas,desde 2008,em unidades prisionais de todo 
o País para o diagnóstico das condições de encarceramento e a recomendação 
de melhorias que permitam a reinserção social dos detentos.

“Hoje nós temos cerca de duzentas crianças vivendo em presídios. 
Isso é muito grave”, declarou o conselheiro.
Walter Nunes observou que, “lamentavelmente”, o aumento da participação 
das mulheres na criminalidade se deve,entre outros fatores,à sua emancipação 
econômica. 
Com informações da Agência de Notícias do CNJ.

fonte: http://www.conjur.com.br/

13 de mar. de 2012

            MÃE E CONDENADA POR LEVAR  DROGAS PARA O FILHO.



Uma mãe foi condenada por levar drogas para o filho preso no Complexo Penitenciário da Papuda. A decisão foi tomada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que manteve sentença. A pena foi fixada em 1 ano, 11 meses e 10 dias de reclusão, em regime inicial fechado, mais 166 dias-multa ao valor unitário de 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos. Cabe recurso.

Consta da denúncia do Ministério Público, que em fevereiro de 2010 a ré, por livre e espontânea vontade, levou, na vagina, 2 porções de maconha (69,50 g) e 1 porção de cocaína (16,37 g) infringindo o artigo 33 c/c artigo 40, inciso III da Lei 11343/06 (tráfico de drogas cometido nas dependências de unidade prisional).

Na sentença condenatória, o juiz da 1ª Vara de Entorpecentes afirmou que a quantidade de maconha e cocaína apreendida com a mulher é incompatível com a versão de que a droga seria usada pelo filho.
Segundo pesquisa feita por ele, um cigarro de maconha possui de 0,5g a 1g da erva cannabis sativa, enquanto a quantidade necessária à overdose de cocaína varia de 0,2g a 1,5g da substância pura. "Não é crível que o filho da ré fosse consumir toda essa droga no presídio, diante das vistas dos policiais. A quantidade de droga apreendida com a ré foge ao padrão da simples posse para uso, conforme demonstra a experiência forense", afirmou.

A mulher foi presa em flagrante durante a revista policial e conduzida ao IML para que a droga fosse retirada da cavidade vaginal. No entanto, pela quantidade significativa das substâncias armazenadas, não foi possível a extração e a mulher foi encaminhada ao Hospital Regional da Asa Norte, onde teve que se submeter a procedimento cirúrgico.

Em depoimento prestado à Justiça, a ré afirmou que foi induzida a praticar o crime por causa das ameaças que o filho recebia de outro detento. Contou que a nora começou a lhe telefonar falando das ameaças e pedindo que ela transportasse a droga, pois estava "suja" no presídio e não podia ajudar o companheiro, ameaçado por causa de dívida contraída na prisão. Com Informações da Assessoria de Imprensa do TJ-DF.

Revista Consultor Jurídico, 8 de junho de 2011

Presas convivem com o drama de sobreviverem longe dos filhos


                              Por Cristina Esteche e Dalner Palomo


A maioria é condenada por tráfico de drogas.

A cor cinza que predomina nos cubículos traduz o estado de espírito das mulheres que se aglomeram nas três celas da Cadeia Pública de Guarapuava, das quais quase em sua totalidade presas por tráfico de drogas. Das 41 mulheres que estão nessa condição apenas duas estão presas por homicídio.

Somente num espaço, 23 presas convivem e dividem os dramas. Atrás de cada prisão há histórias marcadas pela luta da sobrevivência. São pessoas casadas com traficantes, usuárias, abandonadas mães com filhos para criar, que moram em outros municípios, outros estados e em Guarapuava. A faixa etária surpreende, pois é grande o número de jovens entre 19 e 20 anos, passando também por senhoras acima de 40 anos. Quase todas possuem filhos e é o destino deles que mais as preocupa.

Quando entramos na cela o primeiro momento foi de receio, mas aos poucos, elas foram se aproximando e dando vazão aos seus sentimentos. Explosões de choro foram seqüentes à medida em que cada uma queria contar a sua história. É como se fôssemos o único elo entre elas e o mundo exterior às paredes da cadeia.

Maria Valdete Soares, 48 anos, é de Salto Del Guairá, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Ela está presa há 1 ano e 10 meses e nunca mais teve contato com a família pela dificuldade econômica. Condenada há 8,9 anos por tráfico de droga, conseguiu baixar a pena para 5 anos. Mãe de cinco filhos, dos quais o menor possui 10 anos de idade. “Entrei para o tráfico para poder pagar a faculdade dos meus filhos, mas hoje sei que dinheiro nenhum vale a liberdade e nem a saudade insuportável que sinto dos meus filhos. A minha maior dor é que desde que estou presa nunca mais passei o Dia das Mães na presença deles”, fala

Jussara do Nascimento, 40 anos, é reincidente por tráfico de drogas e de armas, e está condenada há 11 anos e 8 meses. “Saí da prisão e caí de novo quando estava 30 dias na rua”, conta. Moradora em Foz do Iguaçu, mãe de três filhos, diz que entrou para o submundo das drogas por necessidade financeira. “Minhas dívidas foram se acumulando e a única saída que encontrei foi o tráfico. Quando saí após ter ficado presa durante três anos, procurei emprego. Mas quando você tem o rótulo de presidiária as coisas ficam ainda mais difíceis”, afirma. “Você sabe o que é chegar em casa e ver um filho chorando de fome, ver outro dizer que vai largar a faculdade porque não pode pagar? A única saída que tive foi voltar para o tráfico, mas hoje como pão com ovo para ficar junto com os meus filhos”, assegura.


“O JUDICIÁRIO QUANDO CONDENA
NÃO SABE O CONFLITO QUE GERA”

A história de Elizete Freitas, 36 anos, que mora no município de Candói, não é diferente. Mãe de um filho, foi presa com 60 gramas de maconha encontradas dentro de um travesseiro que tentou “passar” para o esposo que também está preso. “Ele é viciado e sei o que ele sente quando fica sem a droga. Eu nunca trafiquei”, diz.

Zélia Zuleck, 42 anos, mora na Vila Primavera em Guarapuava, é usuária de crack e diz que foi presa com 16 pedras de crack de “cincão” cada uma. O valor é citado para dizer que as pedras eram pequenas. “Não dava duas gramas”. Condenada a 5 anos e 10 meses de prisão deixou dois filhos sozinhos. “Não sei onde e com quem eles estão”, diz entre lágrimas.

“Quando o judiciário condena uma pessoa não sabe o conflito que existe por trás e que se agrava ainda mais. São crianças que ficam sem mães. Eu cuidava da minha que tem Alzheimer. Tivemos que montar uma mini UTI em casa. Tenho uma filha hoje com 10 meses e que eu amamentava e que há três meses não vejo”, relata Mari Ramires, de Foz do Iguaçu,enquanto chora compulsivamente. Ela e o marido foram presos há três meses com 164 quilos de maconha que seria levado para São Paulo.

As histórias são muitas e se confundem. Marines Albuquerque está na cadeia há 8 anos. Morava no Alto da XV em Guarapuava e ficou viúva no dia 17 de abril. Tem uma filha com 16 anos que está grávida e outros dois filhos. Foi presa por escuta telefônica quando conversava com o namorado da filha que é acusado por tráfico de droga. “Não sei como estão meus filhos. Não sei quem vai cuidar da minha filha quando o bebê nascer”, diz.

Amanda, Adriana, Tatiane, Michele e tantas outras também protagonizam histórias patrocinadas pelo tráfico de drogas. Algumas foram flagradas com grande quantidade, outras foram traídas apenas por palavras, mas dividem a mesma dor que é agravada pela ausência dos filhos no Dia das Mães. A solidariedade, a cumplicidade que encontram uma na outra quando incentivam que esta ou aquela conte a sua história chama a atenção. Assim como as toalhas e as roupas coloridas penduradas pelo teto e pelos beliches tentam esconder as infiltrações que racham a parede. Como se fossem as fissuras que essas mulheres, independente do que e porque fizeram, fazem um recorte em suas vidas.

12 de mar. de 2012


Presa ajudou traficante depois que ele sequestrou seu filho



O Fantástico mostra a realidade das chamadas “mulas do tráfico”. Elas relatam quais motivos as levaram a participar do crime.

Veja as histórias de mulheres de várias partes do mundo que acabaram presas no Brasil depois de serem recrutadas pelo tráfico internacional de drogas. Na reportagem de Eduardo Faustini, você vê os relatos dessas mulheres, que nunca tinham cometido um crime, e o drama das famílias que elas deixaram a milhares de quilômetros do Brasil.

Mulheres foram presas no aeroporto de fortaleza. São as chamadas mulas do tráfico.
“A gente vê as pessoas se arrumando, indo esperar seus familiares, e nós tendo a certeza que não vamos receber nenhuma visita”, conta Mafalda Correia Pires, que está em Portugal.

O presídio feminino Auri Moura Costa, na Região Metropolitana de Fortaleza, abriga 420 mulheres. Ao todo, 49 são estrangeiras.

Elas foram presas quando tentavam sair do Brasil levando drogas. Este ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou o Brasil como o principal corredor de cocaína do mundo. Uma das rotas mais usadas pelas quadrilhas começa na Colômbia, passa por São Paulo, Nordeste do Brasil, África Ocidental e termina na Europa.

Vinte mulheres da cadeia são de Guiné Bissau e de Cabo Verde, na África. Representam quase a metade das estrangeiras presas. “Quando eu sair daqui, eu espero nem um dia me iludir de novo com dinheiro”, afirma Abdezela Pereira Duarte, presa de Guiné-Bissau.

Durante um mês, o Fantástico investigou essa rota do tráfico. Descobrimos como essas mulheres são aliciadas, o drama das famílias que vivem no exterior e a força-tarefa criada para combater esse crime, que não respeita fronteiras.

Na única penitenciária feminina do Ceará, as regras são rígidas. Não há registros recentes de fugas ou rebeliões. “A maior dificuldade realmente é a questão da língua, que a gente tenta inserir através da escola e também a distância da família”, diz a diretora do presídio, Socorro Matias.

Mulheres que foram presas no aeroporto de Fortaleza são as chamadas mulas do tráfico.

“Essas pessoas, muitas vezes, são movidas pela emoção. Elas se apaixonam por um homem. Por esse homem, ela faz tudo, se sujeita até a traficar droga. Muitas vezes, ela é coagida. Ganha um trocado ali para usar seu corpo, para usar sua mala”, revela José Bento Laurindo de Araújo, coordenador do sistema penal do Ceará.

“Se o crime foi cometido em território brasileiro, a pena será cumprida em território brasileiro”, esclarece o advogado Auricélio Paiva.

Mandy Veit é da Alemanha. Condenada a nove anos, diz que entrou no crime, porque queria comprar uma casa para morar com o filho. “Eu queria voltar no passado, para fazer coisas melhores. Queria ser uma pessoa melhor”, revela.

A cada 15 dias, as estrangeiras podem usar o telefone da cadeia. Mandy liga para a família, no dia do aniversário da mãe.

O Fantástico foi à casa de Mandy, que fica em uma área rural da Alemanha, perto da fronteira com a República Tcheca. Encontramos os pais e o filho dela, de 12 anos. Eles viram o vídeo gravado na cadeia. “Espero que você saia logo daí”, disse a mãe de Mandy. “Nós te perdoamos, não importa o que tenha acontecido”, falou o pai, que é engenheiro. “Aquele amor que só uma família dá pra você falta muito aqui. Falta demais”, reconhece Mandy.

Mandy é exceção na cadeia. Além de ter nascido em um país rico, elas estava na faculdade: fazia fisioterapia.

Já o que a maioria relata é um passado difícil. “Eu preciso de dinheiro para ajudar a minha filha que está doente, que tem problema de rim”, conta Abdizela Pereira Duarte, presa de Guiné Bissau.

Muita miséria e africanas que falam português. Segundo a polícia, isso explica por que as quadrilhas internacionais têm aliciado mulheres de Cabo Verde e de Guiné Bissau. Além disso, o aeroporto de Fortaleza é considerado mais vulnerável que os de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Em abril, Vitalina, de 26 anos, e Dulce, de 28 anos, saíram de Cabo Verde e chegaram à capital paulista. Elas receberam de um traficante cerca de oito quilos de cocaína. De São Paulo, as duas pegaram um voo para Fortaleza, onde ocorreu a prisão. Vitalina e Dulce receberiam o equivalente a R$ 10 mil cada uma. “É a dívida, situação de casa. Eu queria ajudar o meu marido de alguma forma. Só que deu tudo errado”, lamenta Vitalina Fernandes Correia.

Elas vão ficar quatro anos na cadeia. “Nós, mulas, não ganhamos. Quem ganha é o traficante mesmo. O que nós ganhamos é sofrimento, dor, vergonha da família”, confessa Dulce Helena dos Santos, presa de Cabo Verde.

Eloni Kintasambe, 25 anos, é de Guiné Bissau. Segundo a polícia, ela tentava levar cinco quilos de cocaína dentro de canecas de alumínio. Ela é uma das poucas estrangeiras que recebem visita na cadeia. O irmão dela se formou em enfermagem no Ceará. “Esse momento não é momento de críticas, não é momento de abandono, esse é momento de apoio”, acredita Isaac Sambé.

Em dois meses, Eloni também terminaria o curso de enfermagem. “Eu estava um ano e dez meses sem ver a minha família. Eu estava viajando para encontrar eles e matar a saudade. Só que a minha conhecida pediu pra levar encomenda para a mãe dela. A encomenda era droga. Na verdade, eu não sei dessa droga”, conta.

Pedimos a várias dessas presas que gravassem mensagens para a família. Depois, o repórter Eduardo Faustini e o repórter cinematográfico Alberto Fernandez foram para a África investigar todas essas histórias.

A nossa equipe começa a busca por informações em Cabo Verde. O país deixou de ser colônia portuguesa em 1975. Tem cerca de 400 mil habitantes que vivem da agricultura e da pesca de atum.

No fim de outubro, os porteiros do cais estão em greve por melhores salários. Em Cabo Verde, é difícil encontrar quem ganhe mais de R$ 150 por mês. E, entre os desempregados, a maioria tem menos de 25 anos.

“Quando eles chegam em casa, o que eles vão fazer? Entrar no vício de bebida e drogas. Falta do trabalho”, explica um homem.

Em uma casa, moram a mãe, a irmã e a filha de Soraya Clarete. Ela está presa no Ceará, por transportar três quilos de cocaína. “A Soraia estava muito à procura de trabalho, mas ela não encontrou por aqui”, declara uma das parentes dela.

A família conta que Soraya nunca tinha se envolvido em crimes até conhecer um traficante da Nigéria, país africano onde, segundo as autoridades internacionais, ficam os chefes de várias quadrilhas. Soraya receberia o equivalente a R$ 3 mil para levar as drogas. “É doloroso ver uma coisa assim acontecer, com uma pessoa que você gosta. A minha mãe não fala nada, mas ela chora todas as noites”, revela uma das parentes da Soraya.

A mãe grava uma mensagem para Soraia em crioulo, a língua nativa de Cabo Verde. “Ela falou que me ama muito, que ela gosta de mim. Eu estou sentindo muito, porque eu vi que a minha mãe está diferente. Ela não era assim. A minha mãe era mais forte. Quando eu estou aqui, ela fica sentindo muito”, diz Soraya.

Em Cabo Verde, encontramos também as famílias de Vitalina e de Dulce, presas com oito quilos de droga no aeroporto de Fortaleza. A emoção é grande. “Eu tenho vergonha do meu filho. Esse não é o futuro que eu queria”, lamenta Dulce.

“Quando ela chegar em casa, eu vou falar para ela nunca mais fazer o que ela fez”, diz uma das parentes de Dulce. “Quando vir para a sua casa, ela me encontra aqui ou vivo ou morto”, um homem declara para a detenta. “Eu quero mandar muito cumprimento para a minha mãe. Mãe, eu perdoo você”, diz o filho de Dulce.

Há 14 anos, o marido de Vitalina, Sany Fernandes Correia, trabalha como garçom em um dos restaurantes mais tradicionais de Cabo Verde. O casal tem dois filhos. “Os meninos não dormem em casa, porque eu trabalho à noite. É muito problema”, admite.

“Não podia dar ouvidos a essas pessoas, só porque ela quer ter uma boa casa, um carro, vida boa. Agora, imagina a vida boa. Está presa!”, critica Mandina Luiza Correa, irmã de Vitalina.

“Amor da minha vida, a única coisa que eu quero dizer é força e coragem. Te amo muito. Um beijo”, diz Sany.

“Que ele me perdoasse por tudo que eu fiz, que eu vou sair daqui outra mulher, que eu amo ele muito e os meus filhos e a minha família”, confessa Vitalina.

A droga que Vitalina e Dulce tentavam trazer do Brasil iria para a Europa. A estimativa é que as quadrilhas distribuam entre 200 e 300 toneladas de cocaína por ano naquele continente.

Em 2009, das 822 apreensões na Europa, 122 foram em voos que saíram da África Ocidental. Nossa equipe partiu de Cabo Verde e foi para Guiné-Bissau, que é o país dessa região do mundo que mais preocupa a ONU. São cerca de 1,5 milhão. O país se tornou independente de Portugal em 1974. Em 1999, enfrentou uma guerra civil. Sem saneamento básico, sem indústria e sem emprego, Guiné-Bissau atraiu o interesse das quadrilhas.

Encontramos os irmãos de uma das mulheres presas no Brasil, passando fome e sede. A irmã dele é Abdezela Duarte, condenada a cinco anos e meio de cadeia. Ela conta que iria transportar a droga, porque o traficante prometeu bancar um transplante de rim para a filha doente. “Se eu pudesse falar com ela, eu pediria perdão e fazia ela entender o motivo do meu abandono”, deseja Abdezela.

“Eu sinto muita falta dela. Te amo muito”, emociona-se o irmão.

A filha de Abdezela, de 6 anos, não está em casa. Depois da prisão da mãe, a criança foi levada pelo pai. “Está doendo no fundo do meu coração, sabendo que eu não posso estar lá para ajudar, porque, por mais pobre que eu seja, mas nunca apagou o fogão da minha casa. Eu nunca comi na minha casa o que a minha irmã está comendo hoje”, ressalta Abdezela.

Em Guiné-Bissau, grande parte do comércio é feito no meio da rua. Não há agências bancárias. Os estrangeiros que precisam trocar dinheiro são disputados quase no tapa.

Um guarda exige propina para permitir a gravação de imagens. “Fizemos uma análise e vê-se que é a corrupção que está na base da entrada de droga no nosso país”, esclarece Lucinda Barbosa Alcarien, diretora da polícia de Guiné Bissau.

Outro exemplo do caos. Sem ser incomodados, nossos repórteres entram na maior emissora de TV do país, que pertence ao governo de Guiné-Bissau.

Dentro, a surpresa. Os corredores, a redação de jornalismo, os equipamentos: está tudo abandonado. Há mais de três meses, as transmissões pararam. Não há fornecimento regular de energia elétrica. “Há mais de 30 anos, estamos nessa caminhada. Não há luz, não há água. É mesmo difícil alguém fazer previsão sobre o futuro dessa terra”, declarou o contabilista Samuel da Rosa.

Luz em casa, a qualquer hora, só com gerador a diesel. Mas, se as pessoas compram o combustível, falta dinheiro até para a comida. E olha que o chefe da família tem um bom emprego. Antônio Sambé, pai de Eloni, trabalha há 27 anos no Ministério das Finanças de Guiné-Bissau. “Tudo escuro, como vocês estão a ver, tudo escuro. E não sei até quando”, conta.

Eloni Sambé é acusada de tentar transportar cinco quilos de cocaína dentro de canecas. No aparelho de DVD, movido à pilha, mostramos as imagens da moça presa no Brasil, a mais de três mil quilômetros de distância.

O pai acredita na inocência da filha. “Nós não vivemos de drogas. Vocês podem ver. A minha casa é modesta. Que ela tenha coragem. Fé em Deus, porque o Deus que nós servimos é poderoso”, aponta Antônio Sambé.

“Meu pai deve estar arrasado mesmo, porque ele tem problema de pressão. Ele é doente, mas ele sempre foi um homem forte”, afirma Eloni.

Em 2007, a ONU criou uma força-tarefa pra combater o tráfico de drogas no mundo. O chefe do escritório local das Nações Unidas diz que era comum ver traficantes colombianos desfilando em carros avaliados em mais de R$ 500 milhões. Os criminosos também moravam em mansões e conviviam com políticos, governantes e militares.

“Eles iam jantar nos restaurantes, gastavam dinheiro em quantias exorbitantes. Sabia-se que forças governamentais e militares estavam implicadas no tráfico de drogas”, explica Manuel Pereira, chefe do Escritório Contra a Droga e o Crime da ONU.

Em abril deste ano, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos fez uma acusação grave: disse que são traficantes o chefe do Estado-Maior da Armada de Guiné-Bissau, o contra-almirante Bubo na Tchuto e o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Ibraima Papa.

Em 2008, Bubo na Tchuto foi acusado de ficar com cerca de 600 quilos de cocaína vindos da Venezuela. Até hoje, o jato está apreendido no aeroporto de Guiné-Bissau.

Procurado pelo Fantástico, o contra-almirante Bubo na Tchuto não quis gravar entrevista. “Gerou-se um sentimento de impunidade, da existência de impunidade aqui em Guiné-Bissau”, afirma Manuel Pereira.

Nessa guerra contra o tráfico, está sendo construída a primeira academia de polícia do país. A obra tem apoio do Brasil. “Precisamos das formações específicas, especializadas, que é para realmente poder permitir um combate sem tréguas dos narcotraficantes”, diz Lucinda Barbosa Alcarien, diretora da polícia de Guiné Bissau.

De volta ao Brasil, com as mensagens gravadas na África, entramos mais uma vez no presídio cearense. Entre todos os casos, um chama a atenção pelo grau de violência. Lucília dos Santos saiu de Cabo Verde e foi presa com dois quilos de cocaína.

Para a família, ela teria se iludido com a proposta de dinheiro fácil. “Quando eu recebi a notícia que ela estava presa, a minha cabeça faltou explodir. Como é que eu vou buscar trabalho, com dois filhos?”, indaga Alvarino Borges, marido de Lucília.

Depois de ver o sofrimento dos parentes, Lucília fez uma revelação. Segundo ela, um traficante sequestrou um dos seus filhos e a obrigou a pegar a droga no Brasil. “ele disse: ‘eu tenho o que dói em você mais’. Que é meu filho. Falei para ele: ‘solta o meu filho, que eu faço o que você quer’”, diz a detenta.

O menino, de 4 anos, está bem. Todas essas histórias misturam violência, miséria e arrependimento. A maioria das presas reconhece: nada justifica o crime grave que cometeram. Que sirva de lição, dizem elas.

“A única coisa que eu tenho que pedir é desculpa e perdão”, disse Lucília dos Santos. “No meu futuro, eu queria trabalhar, cuidar do meu filho. Esse mundo eu não quero mais”, planeja Dulce. “Quem sabe Deus me colocou aqui para aprender a dar valor à vida”, ressalta Vitalina.

11 de mar. de 2012

“Maníaco da Van” conta como foram os estupros e confessa que foi Pastor da Igreja Universal


O acusado de estupro Jéfferson Junio Rodrigues Silva, 28 anos, que ficou conhecido como o “maníaco da Van”, confessou em depoimento, nesta quinta-feira (31), que já foi por 2 anos Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus de Caratoíra, em Vitória. Ele foi reconhecido por cinco vítimas que prestaram depoimento na Delegacia de Proteção à Mulher, na Prainha, em Vila Velha, nesta quinta. O advogado de Jéfferson, Clóvis Lisboa, informou que vai solicitar exames para atestar a sanidade mental do cliente para que ele possa ficar detido no Manicômio Judiciário.

Jéfferson informou no depoimento que deixou de ser pastor há um ano pois não aceitou ser motorista de um dos caminhões da Igreja. Depois disso passou apenas a freqüentar os cultos semanais.

O titular do Departamento de Polícia Judiciária (DPJ) de Vila Velha, delegado Luiz Neves, informou que o “maníaco da Van” chamou a atenção da Polícia pela frieza com que prestou depoimento. “Ele chamou a nossa atenção pela sua frieza. Ele é bastante frio e calculista. Contou com detalhes os estupros que vêm ocorrendo desde o mês de janeiro”.

O delegado ainda informou que Jéfferson pode ter mentido para a Polícia pois os depoimentos do maníaco e das vítimas se contradizem. “Encontramos várias contradições entre depoimentos das vitimas e dele. Tudo leva a crer que ele esteja mentindo e omitindo certos fatos. Como, por exemplo, as armas que elas dizem ter visto: um revólver 38 e uma pistola. Ele alega que estava desarmado quando abordou e estuprou as vítimas”.

Por se tratar de crime hediondo, o advogado informou que, provavelmente, ele não vai cumprir a pena que receber. “É um crime hediondo porque, além de roubo, ele estuprou as vítimas. Somando-se as penas pode dar mais de 100 anos de prisão, mas o cumprimento é de apenas 30 anos pela nossa legislação brasileira”.

As mães de três das cinco vítimas que prestaram depoimento na Delegacia de Proteção à Mulher, nesta quinta, não se contiveram e partiram para cima de Jéfferson quando ele deixou a delegacia. “Você vai pagar por tudo que você fez com a minha filha, seu sem vergonha! Queremos justiça!”, gritavam as mães. Elas ainda descontaram a revolta dando bolsadas e unhadas no “maníaco da Van” durante o pequeno trajeto que ele percorreu da delegacia até o carro de Polícia.

O advogado de Jéfferson, Clóvis Lisboa, disse que vai solicitar o exame de sanidade mental de seu cliente por acreditar que ele não é uma pessoa normal. “O que a gente percebe é que o Jefferson não é normal. Eu vou solicitar exame de sanidade mental dele e a segurança para ele e para a família. Entendo que ele tem que ir para o Manicômio Judiciário. Lá seria o melhor lugar para ser investigada a saúde mental dele”.

Lisboa ainda informou que a família de Jéfferson tem sofrido ameaças de morte. “A família dele tem sido ameaçada diuturnamente. Inclusive a mãe e a esposa, ameaçando tocar fogo na Van, porque o carro não é dele. Essa van foi comprada com indenização da esposa. As ameaças às vezes são anônimas, de bilhetes, de colegas de trabalho do irmão dele, que também vem sofrendo ameaças”.

Logo que saiu da delegacia, Jéfferson foi para o Hospital das Clínicas realizar exames para constatar se ele tem alguma Doença Sexualmente Transmissível (DST). Nesta sexta-feira, pela manhã, será ouvida mais uma vítima de Jéfferson na Delegacia de Proteção à Mulher, em Vila Velha.

A reportagem tentou contato com a Igreja Universal do Reino de Deus mas até às 20h desta quinta-feira (31) ninguém foi encontrado para falar sobre o assunto.

Entenda o caso


Após denúncias das vítimas, a polícia passou a procurar o maníaco. Na tarde de terça-feira (29), os agentes foram até o bairro Morro do Quadro onde reside o dono de uma van com as características passadas pelas moças. As jovens, no entanto, não reconheceram o homem como autor dos estupros.

O “maníaco da van”, foi preso depois que o homem detido, em princípio, relatou aos policiais sobre a existência de outro morador do bairro que era proprietário de uma van azul, semelhante à descrita pela polícia.
Os agentes checaram a informação e prenderam Jéfferson Junio Rodrigues da Silva quando ele chegava em casa. Demonstrando frieza, o maníaco acompanhou os policiais e, ao chegar no DPJ de Vitória, uma das vítimas o reconheceu de imediato.

De acordo com o delegado chefe de Polícia Civil, Hélio Moreira, Jéfferson prestou depoimento e confessou todos os crimes. O delegado confirmou, ainda, que o acusado de fato sempre usava uma van azul para estuprar as moças.

Segundo o chefe de Polícia Civil, Jéfferson andava pelas ruas da Grande Vitória e se apresentava como motorista de transporte alternativo para conseguir que as jovens entrassem no veículo. Em seguida, o acusado mudava o trajeto que dizia fazer, anunciava o assalto, levava as moças para lugares distintos e as estuprava.

Jéfferson vinha cometendo os crimes há menos de um mês. O último assalto seguido de estupro aconteceu na sexta-feira (18). Por volta das 22h, quatro jovens, com idades entre 14 e 20 anos, saíam de um evento Gospel realizado na Praia da Costa, em Vila Velha. As adolescentes deram sinal para que a van parasse e, em seguida, perguntaram ao motorista se ele seguiria para o bairro Paul. Alegando que sim, as moças entraram na Topic.
Nas proximidades de um hipermercado localizado na Avenida Carlos Lindemberg, Jéfferson anunciou o assalto e desviou a rota. O maníaco seguiu para Campo Grande, Cariacica, estacionou o veículo entre duas carretas e passou para o banco traseiro da van, onde estuprou as jovens.

Jéfferson Junio Rodrigues da Silva prestou depoimento, foi autuado e vai responder processo por estupro e assalto. No início da noite desta terça-feira, ele foi levado para um presídio da Grande Vitória. O veículo usado para cometer os crimes foi apreendido pela polícia.

Fonte: Gazeta Online
Presas na Penitenciária de Santana.

Hoje é dia de visita na Penitenciária Feminina de Santana, na zona norte. Do lado de fora, cerca de mil pessoas, muitas crianças, alguns poucos maridos e um número razoável de mães esperam na fila da revista. Para entrar, os adultos vão precisar tirar a roupa e os bebês vão ficar sem fraldas, para que o funcionário tenha certeza de que não há nada ilegal entrando no presídio.

Do lado de dentro das grades, vivem 2.674 mulheres. Metade delas nunca recebe visita. A outra metade passou o sábado se preparando. No único dia em que secadores e chapinhas são liberados, o presídio vira um salão de beleza. Os trabalhos só param no fim da tarde, quando os cadeados são fechados e cada dupla fica trancada na cela em que mora.


                                     Marlene Bergamo/Folhapress

Revista sãopaulo esteve na Penitenciaria Feminina do Estado, onde entrevistou mulheres encarceradas
"Morar" não é força de expressão. É exatamente este o termo que cada uma delas utiliza ao se referir à cela onde fica, todos os dias, das 17h às 7h da manhã, horário oficial de fechamento e abertura das trancas da maior penitenciária da América Latina, que completa 90 anos em 2010.

Obra do arquiteto paulistano Ramos de Azevedo (1851-1928) projetada exatamente para ser um presídio, o prédio tem três pavilhões. A divisão não é por tipo de crime nem por idade, mas obedece à lógica do diretor da penitenciária, Maurício Guarnieri, 48. "No primeiro, estão as mais perigosas, para ficarem perto do olho do funcionário. No segundo, bem no meio e mais cercado, coloco as que mais tentam fugir. No terceiro, ficam as provisórias, que ainda esperam julgamento", explica.

Com 30 anos de serviço, Guarnieri já dirigiu 12 presídios masculinos e está desde 2007 à frente da unidade de Santana. Além da vaidade feminina, que fez abrir a exceção semanal ao secador, ele nota outras peculiaridades. "A mulher é mais provocativa do que o homem. Se alguém vai tirar uma presa da cela, ela faz cena. Arranca a roupa, se lambuza de xampu e ninguém consegue pegar", conta o diretor. As tentativas de fuga também são inusitadas. "Não cavam túneis. No domingo, pintam o cabelo, trocam de roupa com a visita e tentam sair no meio do povo."

Dentro das 1.409 celas, a profusão de histórias tem quase sempre o mesmo enredo: a maior parte das mulheres diz que está na prisão por conta dos companheiros. Há as que foram apresentadas ao crime por eles e as que chegaram ali por terem matado ou mandado matar o marido. Por ressentimento, carência ou escolha, a prisão também é um celeiro de relacionamentos homossexuais. Apenas uma minoria se orgulha dos cônjuges. É o caso das mulheres de Marcola e Andinho, chefes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), que estão entre as líderes de Santana.

No dia a dia, a rotina de todas é parecida. Sempre ao som de conversas barulhentas, elas fazem as três refeições na cela, num cardápio que varia pouco do básico arroz, feijão, salada e carne. Aqueles refeitórios típicos de filme americano, com mesas longas e todos os presos juntos, não funcionam ali. Na cozinha, que começa a funcionar às 3h da manhã, trabalham 63 detentas. Até o pão do café da manhã é feito internamente.

Outras 1.100 detentas são funcionárias de 13 oficinas, onde produzem armação de óculos, terços, tomadas e pratinhos de festa. Isso além do galpão da Funap, a fundação de amparo ao preso, de onde saem artesanatos de crochê e madeira.

                                      Marlene Bergamo/Folhapress

Na foto, roupas estendidas e objetos pessoais no interior dos pavilhões e das celas ocupadas por várias mulheres.
A fila de espera por emprego é grande, já que a cada três dias trabalhados a presa diminui um na pena, e a remuneração mensal chega a R$ 510, o valor do salário mínimo. O dinheiro fica em uma conta administrada pela unidade prisional e a maioria pede que parte seja enviada à família --muitas sustentam a casa com o trabalho na prisão. Outro tanto pode ser gasto com itens como biscoito recheado, chocolate e cigarro, que são encomendados à própria administração da penitenciária.

A sãopaulo frequentou os pavilhões durante uma semana. A seguir, o depoimento de oito mulheres: desde a que tem a família inteira ali até a que foi concebida dentro de uma prisão e, 23 anos depois, está encarcerada. Na casa das 2.674 mulheres, todas têm uma história para contar.
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"Conheci a Ana na prisão"
Aqui a gente não deixa de viver. Não tem essa de dizer que perdeu tantos anos na cadeia. Você tem lembranças, conhece gente. Eu, por exemplo, estou presa pela quarta vez. Na primeira, eu tinha 18. Minha vida aconteceu aqui. Foi na prisão que eu conheci a Ana, e estamos juntas há seis anos. Ficamos dois anos livres e aproveitamos para fazer um filho. Foi um óvulo meu gerado nela. Na primeira tentativa ela engravidou. Era uma época em que estávamos sem usar droga, mas, assim que soubemos da gravidez, tivemos uma recaída. A gente dormia na rua, vendia coisas pessoais para comprar droga. O bebê precisou ficar na UTI e teve problema no pulmão. Quando ela veio presa, dois dias depois eu vim também. Fui assaltar e dei bandeira na frente da polícia. Inconscientemente, eu queria ficar perto dela. Nem ficamos com o nosso filho. Um amigo está com a guarda provisória. No fundo, é melhor. Não quero que ele tenha este começo. Tenho 32 anos e sou uma sobrevivente do tempo em que era a lei do cão que valia na prisão. Agora a bandeira branca está levantada. Mas mulher é covarde: a maldade é cortar o rosto, jogar água quente. Não quer a outra morta, quer a outra feia. Eu já estou ficando cansada. Parece que eu não tenho o direito de querer mais nada.
Regina, 32, presa por roubo, pena de 5 anos e 12 dias.
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"Aprontei muito aqui"

Vim presa aos 18 anos. Estou com 33 e todos os meus aniversários eu passei atrás das grades. Cumpri 13 anos direto, saí, fiquei menos de um ano na rua e voltei. Já morei em todas as penitenciárias femininas, menos em Ribeirão Preto. Minha pena não era alta, nunca matei ninguém. Vim condenada por roubo. Fui ficando porque aprontei muito aqui dentro, participei das rebeliões. E tudo eu aprendi na cadeia. Porque o verdadeiro crime está aqui. Nunca assaltei banco, não tenho nem arma para isso. Meu problema era o vício, eu assaltava para poder comprar droga. Abordava as pessoas na rua, usava muito a faca. Eu sabia que não ia matar, mas a vítima achava que eu podia fazer qualquer coisa e não reagia. Nunca tirei a vida de ninguém, graças a Deus.
Mirela (nome fictício), 32, presa por roubo, pena de 3 anos, 10 meses e 20 dias.
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"Cresci visitando meu pai preso"

Tanta gente tem uma casa, um serviço, filhos. Por que eu tenho que usar droga, roubar e depois ser presa? Sei lá... Acho que veio no sangue, afinal, fui feita na cadeia. Minha mãe conheceu meu pai quando ia visitar o irmão dela, que estava preso. No final, engravidou de mim dentro de uma cela. Sou filha do Chulapa, superfamoso no mundo do crime. Foi ele quem trouxe o crack para São Paulo. Cresci visitando meu pai no Carandiru e, quando eu tinha 11 anos, ele saiu. Não durou um mês na rua e foi assassinado. Eu assisti à morte dele e me revoltei de vez. Saí da escola, comecei a roubar, a me drogar e não sosseguei enquanto não vi o fim dos seis caras que o mataram. O último eu mesma matei, com três facadas. Eu tinha 19 anos. Foi dentro de um hotel, no Brás. Mataram meu pai para tomar a boca. Mas aquela boca é a minha herança. Quando eu sair, vou atrás do meu prejuízo. O crack é uma droga que afunda, tira a vontade de viver. É um mal que veio para destruir, só que o barato é bom, eu não vou mentir. Quando minha filha nasceu, eu a segurava com um braço e fumava com o outro. Tanto que, quando fui presa, ela sofreu de abstinência e precisou ser levada para o hospital. Agora, já perdi a guarda dela. Na verdade, não quero passar o resto da vida presa. Mas não sei se vou ter força. Eu tenho uma raiva, um vício. Vi o fim do meu pai, minha mãe tem HIV, tuberculose e cirrose. O meu final vai ser como? Sair da cadeia, tomar um tiro e morrer?
Márcia, 23, presa por roubo, pena de 11 anos, 8 meses e 13 dias
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"Mandei matar meu ex-marido"

Isto é um submundo. A gente aprende a sobreviver, mas não se acostuma. Se eu me habituar, perco a referência, que é ao que eu mais tento me apegar nos dez anos que estou presa. Sou formada em história e era professora universitária. Estou aqui por ter mandado matar meu ex-marido. Ele machucava meus filhos, chegou a arrancar a orelha do menor. Eu pedia que as visitas dele às crianças fossem monitoradas, mas nunca consegui. Não aguentei. Sou homicida? Não. Mataria alguém na rua? Nunca! Não acho que é certo ou errado o que fiz. Tudo foi fatalidade. Para não "emburrecer", me tornei professora da Funap, o que faz com que eu converse muito. Elas me contam porque eu sou como elas, uso uniforme. Há meninas que se sentem menos presas aqui: lá fora apanhavam do marido, eram estupradas pelo pai. Aqui se sentem gente. Tenho alunas que ganharam a liberdade e fazem faculdade. Entraram cruas e saíram com um projeto. Tenho certeza de que a educação é o único fator ressocializador em um presídio.
Maria Eduarda (nome fictício), 36, presa por homicídio, pena de 38 anos e 6 meses.

Vista externa da Penitenciaria Feminina do Estado, localizada no bairro de Santana, na zona norte da capital paulista.

                                      Marlene Bergamo/Folhapress

"Dá medo de como vão me olhar"
Conheci meu namorado na cadeia. Eu trabalho na oficina de óculos, e ele vinha repor o material. Conversa vai, conversa vem, e aconteceu. Agora só precisa ter paciência para me esperar sair. Fui condenada por latrocínio e sequestro. Comecei no crime menor de idade e, quando fiz 18, fui pega logo. Minha primeira vítima quase tomou o revólver e me deu um tiro. Mas consegui sair com R$ 1.000 e fiquei animada. Depois do primeiro, você não para mais. Já aconteceu de eu estar num assalto, ter que atirar, e a vítima morrer. Não que eu quisesse matar. No desespero, você acaba atirando pra tudo quanto é lado. Estou na sexta parceira de cela. A relação fica muito forte, rolam vários sentimentos. Com uma, namorei quatro anos, fazíamos planos de ficar juntas lá fora. Mas todo mundo vai embora, só fico eu. Dá muito medo de sair. Medo não de como eu vou encarar o mundo, mas de como o mundo vai me olhar. Aqui é uma passagem. É tenebrosa, mas vai terminar. E depois, como vai ser?
Marelly, 27, presa por tráfico, pena de 43 anos e 9 meses

Fonte : Revista sãopaulo.

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