NOSSAS EXPERIÊNCIAS: 2012-02-05

11 de fev. de 2012

                                            FRIGIDEZ FEMININA.


Nos anos 80 e 90, a banda Blitz lançou no Brasil um grande sucesso, “Bete Frígida”. No contexto da música, “Bete” era uma moça esnobe, sem nenhuma sexualidade, com alterações afetivas. Talvez este sucesso tenha se dado, pelo fato da música abranger um tema tão polêmico. A partir desta época no país, começou a interrogação: o que é ser frígida?

Vários conceitos tentaram esclarecer o que seria a frigidez, algo como não gostar de sexo, ser assexuada e vários outros. Nos dias de hoje, temos como conotação de frigidez um termo amplo, sem significado, justamente por ter uma conotação ambígua e pejorativa. Começou-se então estudar a colocação da palavra e o que ela realmente significaria.
De acordo com a ginecologista e especialista em sexologia, Dra. Luciana Sereno França, hoje a “frigidez” é denominada como disfunção sexual feminina, ou alteração da função sexual, principalmente do desejo sexual, e esta disfunção se deve na maioria das vezes a bloqueios total ou parcial da resposta psico-fisiológica.

A resposta sexual feminina, segundo a especialista, se caracteriza pelo trinômio, desejo, excitação e orgasmo, e este bloqueio pode se inserir em qualquer uma destas fases. Quando se dá na fase do desejo, estamos diante de uma disfunção que chamamos de inapetência sexual, podendo ser conhecida como distúrbios da pulsão sexual ou distúrbios da libido. Parece ser esta alteração, nesta fase, a mais importante, pois é ela o início de toda a resposta sexual feminina. Já quando o bloqueio ocorre na fase de excitação, a disfunção está representada pela alteração na lubrificação vaginal. Se o bloqueio é na fase orgástica, consideramos como anorgasmia feminina.

A especialista esclarece que estatisticamente é difícil achar um exato percentual desta população, ou fazer um estudo randomizado desta população, pois além dos aspectos culturais, existe ainda uma série de preconceitos considerados fortes. Fato que dificulta de forma bem acentuada, a confiabilidade das incidências apresentadas, acrescenta.
Na rotina do consultório ginecológico, explica a médica, é uma queixa tão freqüente concorrendo com a leucorréia, os chamados corrimentos e alterações menstruais. Este fato se torna evidente à medida que as leucorréias e distúrbios menstruais já possuem um tratamento efetivo, pois as disfunções sexuais exigem uma abertura maior para serem expostas, compara.

                                                                                                                                                                             
CAUSAS.

As causas de disfunções sexuais se classificam em orgânicas e psicológicas. “É difícil caracterizar qual disfunção é determinada por fatores físicos ou por fatores psicológicos”. É importante, no entanto, salientar que nas dispareunias (dor nas relações sexuais) há um componente orgânico importante, assim como nos casos de vaginismo (dor na relação sexual por contratura involuntária da musculatura perineal) e de anorgasmia (ausência de orgasmo), na qual o comprometimento na maioria das vezes é psicológico.
Dentre as causas psicológicas, é preciso ressaltar as questões sócio-culturais (educação sexual castradora), fatores religiosos, tabus e crendices. Nas causas comportamentais, a médica destaca as vivências sexuais destrutivas, violências sexuais, medo de engravidar, experiências obstétricas traumáticas, relações diádicas inadequadas (diálogo limitado com o parceiro). Estas inadequações além de criarem um ambiente sexual destrutivo, com freqüência pioram a comunicação do casal.
                                                                             

É importante diferenciar bem as fases da resposta sexual, e identificá-las para uma correta instituição terapêutica, por exemplo, uma mulher durante o período do climatério pode estar com o desejo sexual adequado, o que não quer dizer que a fase de lubrificação estará também adequada. A apetência sexual é um fenômeno psicológico e nato do ser vivo, como a fome, a sede, e outros, enquanto a lubrificação é um fenômeno fisiológico.


INAPETÊNCIA.

Segundo a sexologista, uns acham que “frigidez” é sinônimo de anorgasmia, para outros significa falta de excitação sexual e ainda tem os que agrupam todos os fenômenos da resposta sexual achando que “frigidez” é definida como a falta de desejo, de excitação e de orgasmo. Esta uniformidade terminológica contra-indica esta expressão na sexologia clínica moderna. É evidente que a apetência sexual varia de acordo com o grupo estudado e momento de vida desta sociedade. Alguns fatores influenciam diretamente neste contexto. Entre eles, é preciso destacar problemas econômicos, afetivos, culturais entre outros.
Assim, ratifica a especialista, “numa sociedade que explora o corpo da mulher e do homem como atrativos para venda de produtos de grandes empresas, numa sociedade que nos consome todo o momento com novos mecanismos erotizados, deixa pouco espaço para as fantasias sexuais próprias do indivíduo.”
A inapetência pode ser caracterizada, como primária, secundária ou adquirida. Na inapetência primária consideramos aqueles indivíduos que nunca tiveram desejo sexual, comumente conhecido como assexuados. “É o modo de ser do indivíduo”.

                                                                                                                                                                                                                                                       
Já na inapetência secundária ou adquirida, o indivíduo tinha um desejo sexual constante, e de uma forma brusca ou lenta, este desejo deixou de existir. Normalmente isto pode acontecer após acontecimentos traumáticos, como as frustrações, decepções afetivas, e outras situações que causam angústia e tristeza, uso de drogas, como a cocaína, por exemplo, que apesar de ter um efeito excitante no sistema nervoso central, parece ter um efeito negativo no desejo sexual por lesar células nervosas condutoras de estímulos reflexos.

A especialista comenta ainda que é interessante como a inapetência sexual é encarada em alguns grupos sociais. Algumas mulheres, por exemplo, reagem desde uma aceitação passiva, emprestam o corpo para satisfação do parceiro, e outras de uma maneira geral, evitam o ato sexual, criando uma série de desculpas como costumamos conhecer, exemplo clássico disto, é uma dor de cabeça, “algumas chegam a ponto de criarem doenças psicossomáticas para justificarem o desânimo sexual”.

Fonte: Dra. Luciana Sereno França
Ginecologista e especialista em Sexologia.

10 de fev. de 2012

Meu inferno sexual


Mariano*, mesmo transando 20 vezes por dia, queria mais.
Por Sergio Crusco



'Quando ficava um só dia   sem transar tinha crises, suava, tremia'


'Deixei de comprar comida para gastar com prostitutas'Mariano*, 39 anos, funcionário público

Eu era muito pequeno, mas lembro de uma babá ter me molestado sexualmente. Tinha uns 3 anos, fui morar com meus bisavós e essa moça, uma espécie de governanta, era quem me dava banho. Ela pedia para ver meu pênis, perguntava se estava duro e o introduzia em sua vagina. Não lembro das cenas claramente, nem sei se alguém de casa chegou a desconfiar do que acontecia. Eu simplesmente não sabia o que estava acontecendo, o que era aquilo, e também não sei até que ponto essa experiência influenciou minha vida sexual adulta.


Fui uma criança solitária e sem amigos. Minhas diversões eram gibis, revistas de futebol e masturbação. Me masturbava compulsivamente, mais de 20 vezes por dia, até o colchão ficar encharcado de suor. Foi assim até os 15 anos, quando um amigo me levou a um passeio pela avenida do Estado, em São Paulo, e pela primeira vez fiz sexo com uma prostituta. A partir dali, todo dinheiro que conseguia gastava com programas.

Aos 20 anos, me casei. Fui um marido fiel, porque era feliz com ela. Isso não quer dizer que minha compulsão diminuiu. Fazíamos sexo várias vezes por dia, todos os dias. Chegamos a transar 20 vezes num dia só. Ela sabia que era fora do comum, mas não reclamava, porque queria muito engravidar. E tivemos um filho. Mas o casamento se desgastou e chegou ao fim.

Solteiro de novo, aos 27 anos, voltei às garotas de programa -todos os dias. Procurava mulheres em boates e em anúncios de revistas de encontros. Queria experimentar louras, morenas, negras, índias, altas, baixas. Nunca fui dado a fetiches específicos, sadomasoquismo ou coisa parecida. Minha grande fantasia era estar com o maior número de mulheres que pudesse. Estabelecia uma 'meta'e a perseguia: 'Hoje quero uma negra de seios avantajados, hoje quero uma oriental, hoje quero uma mulher que tenha pêlos nas pernas'. Nesse período viajei três vezes para a Europa -França, Holanda, Itália, Inglaterra, Bélgica. Tinha interesse em conhecer outras culturas, mas era inevitável procurar experiências sexuais em cada nova cidade. Tinha a fantasia de transar com uma mulher numa vitrine de Amsterdã. Realizei. Era fascinado por mulheres louras de olhos azuis, o que me levou à Dinamarca.

Minha situação financeira ia de mal a pior. Além das viagens, gastava tudo o que ganhava com prostitutas, em São Paulo. Quando ficava sem grana, pedia emprestado a amigos ou recorria a financeiras. Cheguei a ficar sem comprar comida: não me importava com o que comer, só pensava em sexo. No trabalho, conseguia cumprir minhas obrigações, mas passava o tempo todo pensando no final do expediente, como alguém que espera ansiosamente a happy hour para tomar uma cerveja com os amigos.

Quando ficava um dia sem transar, tinha crises de abstinência: suava, sentia dores no corpo. Uma vez, até desmaiei no trabalho. Ficava indisposto, perdia a capacidade de raciocínio. Eram sintomas parecidos com os de quem tem dependência química, embora não fosse o caso. Nunca usei drogas e sempre bebi moderadamente. Uma dessas crises durou 20 dias. Eu estava totalmente sem dinheiro, absurdamente endividado com três financeiras e com vários conhecidos. Quis vender um vale-transporte de dez unidades para um colega de trabalho. Ele sabia que eu vivia atrás de prostitutas e disse que não compraria o passe, pois, mais do que de dinheiro, eu precisava de ajuda.

Até aquele dia, eu achava que podia continuar vivendo daquele jeito, mas a conversa com esse colega foi um alerta. Senti que aquela loucura por sexo não era mesmo normal. Já havia lido uma reportagem sobre o Dasa [Dependentes de Amor e Sexo Anônimos] numa revista. Procurei os telefones e, no dia seguinte, fui à primeira reunião. Ali, encontrei homens e mulheres com histórias como a minha, e percebi que era mesmo doente por sexo.

Isso foi em outubro de 1999. São quase dez anos de Dasa, porque o processo de recuperação foi lento. Comecei a a seguir a programação dos 12 passos, que é parecida com a dos Alcoólicos Anônimos. Eles ficam um dia sem beber, a gente fica um dia sem sexo, e assim por diante. Durante o tratamento, comecei a me interessar pelas mulheres de um jeito mais normal, não só pensando em sexo. Nessa fase, fiz dois testes de HIV e, felizmente, não contraí o vírus, apesar de ter praticado sexo sem proteção algumas vezes. Na época, achava que, se contraísse o vírus, era só procurar mulheres que também fossem positivas. Na verdade, acreditava que minha vida já estava perdida.

Há cinco anos, conheci minha atual companheira, numa rotisserie perto de casa. Trocamos telefones e começamos a namorar. Com ela, tenho uma vida sexual equilibrada, sem dependência, sem obrigações. Não faço mais sexo para tentar preencher um vazio. Ela conhece a minha história e, até pelo fato de ser psicóloga, entende os problemas que enfrentei. Aos poucos, sanei minhas dívidas, e descobri prazeres que havia deixado de lado ou nunca havia experimentado. Coisas simples, como viajar, ir ao cinema, ouvir música, fazer caminhadas com minha mulher ou simplesmente estar entre amigos.'

ONDE PROCURAR AJUDA:

DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos)
-http://www.slaa.org.br/-, o site informa os endereços e horários de reuniões da irmandade em vários Estados do Brasil.

PROAD (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes)
 -(11) 5579-1543, http://www.proad.unifesp.br/

* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados
Foto: Cristiano
VIDA REAL
Meu inferno sexual

Quando vira vício, a busca pelo prazer se torna escravidão
Ana*, advogada, chegou a se prostituir para ter sexo rápido.
Por Sergio Crusco



Do imperador Calígula ao ator Michael Douglas, e mais recentemente o astro Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones, que seriam viciados em sexo, conhecemos rasteiramente o perfil do dependente sexual: o sujeito que não consegue passar um dia sem ter suas fantasias realizadas, busca prazer incansavelmente, coleciona aventuras eróticas. Compulsão sexual, dependência de sexo, transtorno sexual não-especificado ou impulso sexual excessivo são algumas definições da literatura médica para o problema discutido desde relatos da Antigüidade, mas ainda pouco estudado.

Em que ponto um comportamento sexual vigoroso atravessa a linha que separa o prazer da dependência? 'Ter vida sexual exuberante não significa ser dependente', diz o psiquiatra Aderbal Vieira Jr., da equipe do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 'O que chamamos de dependência não-química, na falta de denominação melhor, começa a se manifestar quando a pessoa sofre algum prejuízo em diversas áreas da vida.' As dependências não-químicas mais freqüentes atualmente, de acordo com dados do Proad, são o vício em jogos, internet, compras e sexo.

Se você sonha em fazer sexo numa caverna da Capadócia ou no banheiro da balada mais próxima, não há o que temer: 'As fantasias colorem a vida. O dependente, no entanto, perde a liberdade de escolha', diz Vieira. A seguir, dois ex-dependentes sexuais -um homem e uma mulher- contam como essa incapacidade de autonegociação os levou a momentos desesperadores. Ambos freqüentam, ainda hoje, os Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa), grupo que tem como princípio de reabilitação os 12 passos do Alcoólicos Anônimos (AA), adaptados à questão sexual.


'Sem sexo, eu ficava maluca, totalmente descontrolada'
Ana*, 45 anos, advogada

Vim de um lar desestabilizado pela violência. Meu pai era alcoólatra, uma pessoa boníssima, mas que se tornava agressivo e batia na minha mãe quando bebia. Ele era culto, oficial da Polícia Militar, trabalhava muito. Quando poderia estar com os filhos, ele se afastava, por ressaca moral. Minha maneira de conquistar seu afeto -e de competir com minhas irmãs- era mostrando boas notas. Ele me estimulava, tanto que prosperei e sempre fui independente financeiramente.
Fui também uma garota cheia de libido. Meus seios começaram a crescer aos 11 anos, e fazia algumas brincadeiras com os garotos da escola -deixava que eles pegassem nos meus peitos. Perdi a virgindade cedo, aos 14. Quando uma irmã se casou grávida, meu pai disse que ela deveria ter se espelhado no meu exemplo. Mal sabia ele quanta água já havia passado por baixo dessa ponte.
'Acordei com um estranho no motel, e à tarde já estava na cama com outro homem'


Casei aos 21 anos. Meu primeiro marido era alcoólatra como meu pai e ainda por cima usava drogas. Eu já sabia disso, mas acreditava que meu amor seria suficiente para consertá-lo. Eu sofria violência física, verbal, moral, sexual. Quando montei meu escritório de advocacia, ele não perdia a chance de dizer: 'Você é o 'macho' da casa, tá cheia de dinheiro. Pra que vou trabalhar?'. Mesmo assim, nossa vida sexual era intensa. Tínhamos relações quase todos os dias, mas muitas delas forçadas. Várias vezes, quando bêbado, ele me agrediu fisicamente e depois quis fazer sexo. Eu me anulava, e acreditava que, uma vez desejada, uma vez amada. Se ele estivesse satisfeito, eu estaria bem.

Aos 28 anos, conheci um homem que mexeu comigo -e mexe até hoje. Acredito que meu padrão de dependência sexual começou a se manifestar mais fortemente a partir desse relacionamento. Ele era meu colega na faculdade. Um cara bonito, introspectivo, noivo, o que atiçava meu espírito de competição. Brinquei com ele dizendo que era o genro que minha mãe adoraria ter. Não demorou para transarmos -e foi maravilhoso. Foi o único homem que, até hoje, me deu prazer: eu não precisava me transformar em mulher fatal para seduzi-lo. Tive orgasmos com outros homens, mas nunca com a mesma intensidade que esse amante provocava.
No meio desse caso, me separei. Mas, como meu amante não deixava a noiva, passei a ter outros rolos também. E acabei me casando de novo, com outro homem violento. Logo que nos conhecemos, ele me bateu, no meio de uma discussão, em um bar. Percebi, tempos depois, que o problema estava em mim, que atraía pessoas com o mesmo padrão de comportamento. Eu precisava de alguém para tentar consertar, tentar sanar a relação frustrada de meus pais. Esse segundo marido me evitava sexualmente. E, no período em que fui casada com ele, meu caso com o antigo amante pegou fogo.
Nossa necessidade de transar era fora do comum. Fazíamos sexo no carro, no motel, em lugares públicos. O ponto crucial da nossa história sempre foi sexual, embora eu alimentasse a fantasia romântica de me casar com ele, mas ele jamais quis se separar. Depois de cinco anos, nos afastamos, por vontade dele -disse que eu era pegajosa, ciumenta, e que não estava pronto para um relacionamento sério.
Foi então que minha busca por sexo a qualquer custo se intensificou. Sentindo-me rejeitada pelo amante e pelo meu marido, saía à caça. Era uma espécie de vingança, e quem acabava machucada e agredida era eu. Quando sentia falta de sexo, acontecia o que chamo de 'disparada de gatilho'. Uma coisa descomedida.
Cheguei a ter três homens num só dia. Acordei no motel com um cara com quem havia saído na noite anterior. À tarde, um rapaz que eu conhecia -e cuja mulher, minha amiga, estava grávida- me ligou e fomos transar. À noite, tive mais um encontro, dessa vez com uma pessoa da minha família, um primo.
'Cheguei a ficar numa esquina e saía com os caras sem nem cobrar nada'
Fui várias vezes para a cama com desconhecidos com quem cruzava em ônibus, em bares. Cheguei a me vestir de prostituta e ir para uma esquina. Eu nem cobrava. Fazia isso para ter sexo rápido. Comecei a transar também com mulheres. Tive um caso com uma funcionária do meu escritório durante dois anos. Namorei até um presidiário, que conhecia da época da faculdade. Eu ia semanalmente ao presídio, nos dias de visita íntima, e a sensação de transar numa cela me deixava excitadíssima. Uma das poucas taras que não realizei foi transar com um travesti. Nem sei com quantos homens dormi nessa época. Foram mais de 100, com certeza. E, muitas vezes, deixei de usar camisinha. Fiz o exame de HIV há um ano e, graças a Deus, deu negativo.
Sem sexo, eu ficava maluca, descontrolada. Essas crises afetavam outras áreas: eu descontava na comida, tinha alucinações à noite, criava fantasias sexuais o tempo todo, ficava perturbada, não conseguia me concentrar no trabalho. Até meu cabelo caía! Eu pensava no meu ex-amante sem parar, achava que morreria se não tivesse aquele homem! Corri risco de vida várias vezes, dirigindo de madrugada, alcoolizada. Apesar do perigo, essas situações me fascinavam, era uma adrenalina grande. Trair meu marido me dava prazer, e para isso tinha inúmeras desculpas: curso à noite, chá de cozinha, uma tia que morreu, problemas com clientes.
Em 1998, aos 35 anos, meu segundo casamento acabou depois de cinco anos. Suas crises de violência contra mim se tornavam cada vez mais freqüentes e a única saída foi a separação. Eu já havia reencontrado o amante havia alguns meses, ele me ligou dizendo que tinha sonhado comigo, que sentia minha falta. Atendi prontamente, como um fumante que não consegue abandonar o vício. Voltamos a transar loucamente. Muitas vezes deixei de trabalhar para encontrá-lo. Soltei as rédeas do meu negócio, largando tudo na mão dos empregados. Perdi clientes e acabei fechando o escritório.
Quando não estava com o amante, continuava nas 'disparadas de gatilho'. Fui ficando endividada, desmotivada. Lembrei dos grupos de apoio a dependentes. Conhecia os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, por causa do meu pai, e procurei o Mada [Mulheres que Amam Demais Anônimas], pensando que meu problema era dependência afetiva. Ali, me aconselharam a participar do Dasa [Dependentes de Amor e Sexo Anônimos]. Foi o que me salvou.
Há dois anos, freqüento os dois grupos, e faço psicoterapia. Nesse tempo, percebi que, no fundo, o que eu queria era aquele amor romântico, caseiro, de novela. Buscava o sexo para suprir a rejeição. Digo que tenho duas personalidades: sou uma 'puta doutora' ou uma 'doutora puta', mas a imagem que cultivo socialmente é a de boa moça.
Minha relação com meu amante não está resolvida. Ainda nos vemos de vez em quando, ele nunca se casou. Mas entendi que ele não está comigo porque não quer. Simples assim. Hoje, estou namorando um rapaz interessante, tranqüilo, que conheci no metrô. Ele tem um perfil diferente dos homens pelos quais sempre me senti atraída. É gentil, trabalha e paga suas contas, é solteiro, tem 34 anos, uma graça! Estamos no começo do namoro, mas quero apostar num relacionamento saudável. Também não tenho mais necessidade de ser aprovada por um homem, pois estou investindo em mim, na minha qualidade de vida. Faço um curso de pós-graduação, retomei o trabalho em casa, captei novos clientes e planejo viagens que sempre imaginei, mas nunca fiz, por ter colocado o sexo acima de tudo.'
fonte: revistamarieclaire.globo.com

9 de fev. de 2012

Encarcerados (as)




Sexualidade: Desatando os  nós na adolescência.

Um pouco dessa história começa por volta dos 10/12 anos, quando meninos e meninas começam a sofrer as primeiras transformações físicas, que vão ser responsáveis pelo amadurecimento da sexualidade.
Durante todo o desenvolvimento do indivíduo, desde o nascimento até a puberdade, as mudanças físicas ocorrem muito lentamente. Mas é por volta dessa idade, que essas mudanças vão se dar num processo bastante acelerado.

No menino, agora rapaz, ocorrerá um amadurecimento dos testículos e da bolsa escrotal . Em seqüência, o crescimento do pênis. Um ano depois, mais ou menos, acontece a primeira ejaculação; vai haver também, uma intensificação na transpiração, no aparecimento de acne (cravo), no desenvolvimento da musculatura e no engrossamento da voz.

Já na menina, há o surgimento da menarca (que é o nome da primeira menstruação), o crescimento dos seios, o aparecimento dos pêlos nas axilas e na genitália (vulva) e o aumento da oleosidade da pele, com o surgimento da acne.

Podemos considerar que é na adolescência que ocorre a grande descoberta da sexualidade e dos sentimentos de namoro, “ficar” e paixão.


A partir dessas mudanças que falamos, o que estava, de certa forma, à nível do imaginário passa a ser real.
É na adolescência que se intensificam a masturbação e, muitas vezes, ocorrem as primeiras relações sexuais.
Vale dizer que a masturbação faz parte do desenvolvimento da sexualidade de todas as pessoas: não causa doença, não vicia e nem mesmo é feio, sujo e pecaminoso. Essa “brincadeira”de descoberta do próprio corpo e prazer, cada um pratica da forma que melhor lhe convêm.

Dúvidas da garotada:

A masturbação faz acabar com o esperma?
Léo, 13 anos

Não, Léo, porque os homens não nascem com uma quantidade “X”de esperma. É uma produção, podemos dizer assim, contínua.

A moça pode perder a virgindade masturbando-se?
Bia, 15 anos.
É bastante difícil, porque normalmente as moças se masturbam manipulando o clitóris. É preciso ter cuidado com objetos pontiagudos, porque, estes sim, são perigosos e machucam.

Qual a idade em que uma pessoa deve começar a se masturbar e qual a freqüência certa?

Celso, 15 anos.
Não existe uma idade certa. As pesquisas na área da sexologia mostram que ela é mais freqüente na adolescência e na velhice, quando os idosos ficam mais sozinhos, nessa cultura que acredita que o idoso não têm desejo sexual ou que a “velhinha é sem-vergonha” se ela sai para namorar. E na adolescência, porque a sexualidade está “ à flor da pele”, com a mudança do corpo, da cabeça e dos hormônios que estão “trabalhando à todo vapor”.

Outra coisa: não existe uma freqüência certa. Cada pessoa tem um “relógio interno” muito próprio e um prazer muito individual que decide o que lhe é apropriado. Por isso, a freqüência normal vai depender do ritmo “ïdeal” para cada um..

E MAIS:

A garotada NÃO deve acreditar que...
A masturbação faz crescer os peitos dos homens, parecendo que têm “pedrinha” dentro;
O homem fica fraco;
Todo mundo percebe quando uma pessoa se masturba;
Masturbação dá espinha;
Provoca esterilidade ou,
Faz crescer os órgãos sexuais.

Mas essa(s) descoberta(s), muitas vezes, extrapola o próprio corpo e, meio que por curiosidade, chega ao outro, o colega, através de brincadeiras, como o “campeonato de ejaculação” no banheiro: rapazes ficam querendo ver quem ejacula mais rápido, quem goza mais longe ou quem “segura mais”. Isso faz parte dessa descoberta a que nos referimos e não significa que ele tenha interesse sexual pelo amigo ou colegas. Ou ainda as meninas que começam a estabelecer a intimidade com as amigas, justamente no momento da descoberta dos seios, da menstruação, dos segredos e interesse por “aquele garoto que nem lhe dá bola”e do medo que dá o início do primeiro namoro: “como é que se beija?”, “E se ele quiser transar comigo?”, entre outras interrogações.

O que percebemos claramente é que todo esse processo ainda está muito preso aos papéis - com todas as cobranças - do que significa ser homem e mulher na nossa sociedade.
E não têm escapatória, cobram mesmo!:

O rapaz, ao entrar na adolescência, tem que provar sua masculinidade, cantando todas as meninas, porque, se ela “der mole”e ele não for, vão dizer que ele é bicha. E justamente o oposto acontece com as garotas: se ela sair com dois, três rapazes, será logo chamada de “galinha”.

A manifestação do desejo na adolescência é bem mais difícil para as moças, do que para os rapazes. Isso porque as mulheres são bloqueadas desde cedo nos seus desejos e nas suas primeiras manifestações sexuais. É aquela velha história: O homem tem mais necessidade de sexo do que a mulher. E a gente sabe que isso não é verdade . Sendo assim, a adolescente se sente muito culpada e angustiada quando percebe que também tem uma manifestação de sexualidade, que sente desejo pelo namorado ou mesmo que o acha um tesão e, também que tem vontade de transar com ele.

Inclusive, é bastante comum as moças atribuírem a transa, caso ela ocorra, a insistência do namorado ou “quando percebi já tinha acontecido”. É raro encontrarmos moças admitindo que tiveram relação sexual com o namorado por opção.
E o risco de uma relação não planejada, é que ela ocorre sem os devidos cuidados ou a prevenção necessária: que é usando camisinha.

                                                                               
Não podemos esquecer que sexo é, também, responsabilidade. É ser responsável por si e pelo outro. É ser responsável pelas conseqüências.

Dúvidas da garotada:

...tenho 16 anos, sou virgem. Namoro um rapaz e gosto muito dele e ele de mim. Sinto muito tesão por ele quando a gente namora e vontade de transar. Mas tenho medo que possa doer muito...
- Mariana -  

A dor da primeira relação tem muito mais de mito do que de realidade. Pode doer um pouco, sim. Mas quanto mais estiver relaxada, menos dor ou nenhuma terá.
A postura e compreensão do namorado, serão muito importantes.
Se além de relaxada, a garota estiver consciente de que é isso mesmo que está querendo, e não está ali apenas para satisfazer ao outro ou se não ele transa com a colega, melhor será esse encontro.
Creio que a moça em todas essas situações deve conversar abertamente com o rapaz. Ele – principalmente se for adolescente – também estará temeroso. É um engano pensar que os homens tiram essa situação “de letra”. Quanto mais jovem, mas difícil será. Igualzinho às mulheres.

Outra coisa: se a adolescente – e o mesmo recado vai para os rapazes – estiver com muita dúvida na cabeça, certamente esse não é o momento certo para iniciar uma vida sexual.

...todas as minhas amigas já cresceram e eu continuo parecendo uma criança.
- Raquel, 12 anos -

Cada garota é diferente da outra, como toda pessoa na verdade. Algumas com 12 anos já têm o corpo bem formado, enquanto outras, ainda estão se desenvolvendo.
Os responsáveis por essas mudanças são os hormônios, igualzinho como acontece com os rapazes.

...quase todo o dia quando acordo eu estou com a cueca melada...
- Luis Cláudio, 13 anos -

O que acontece com o Luis, e todos os garotos nessa faixa etária, é super natural. Ao atingir a puberdade e adolescência, quando o rapaz ainda não se masturba ou transa, pode acontecer dele gozar à noite, durante o sono, num sonho associado a sexo. A isso chamamos produção noturna. É sinal que está produzindo espermatozóide.

...e o meu pênis toda hora fica duro.
- Rafael, 13 anos -

É sinal de que está excitado. Os garotos já pararam pra pensar em que momento isso ocorre? Creio que é quando está beijando, fazendo carinho ou pensando em sexo ou em alguma moça.
Na adolescência é mais freqüente isso ocorrer “toda hora”, porque o garoto está se descobrindo e a própria sexualidade, sem ter muito controle sobre suas reações.
Também é comum o pênis ficar ereto (duro) quando não se está excitado, mas com a bexiga cheia, freqüentemente quando acorda pela manhã, com vontade de fazer xixi. Popularmente se costuma chamar, nesse caso, “tesão de mijo”.

Como estamos vendo, a adolescência é um processo de “busca” de uma identidade, sendo a identidade sexual peça determinante. E durante essa “busca”, são comuns as fantasias ou os contatos com o mesmo sexo. Quer dizer, a iniciação sexual se faz, muitas vezes, entre rapazes com rapazes e entre moças com moças. O que não significa que eles serão homossexuais quando se tornarem adultos. Esse tipo de comportamento não é mais que uma etapa na evolução afetiva.

Podemos dizer que, até os 10/12 anos, eroticamente, o indivíduo está muito voltado para si mesmo, para coisas suas. A partir daí, percebe que a excitação do seu pênis ou da vagina, assim como o tocar o próprio corpo, emana sensações muito prazerosas.
Nessa idade, existe uma excitação muito grande e um desejo enorme, e que dá muito medo.
Então, o que pode ser mais fácil de acontecer? No momento inicial, é procurar algo mais semelhante para exercitar essa sexualidade.
Consideramos isso mais uma etapa de exercitar consigo mesmo, para depois conseguir o outro, o diferente, a pessoa do sexo oposto.

Uma adolescência que não tenha as fantasias de desejo em relação ao próprio sexo, assim como em relação ao sexo oposto, algo pode estar errado
Agora, mesmo que esse (a) garoto(a) venha ter uma orientação homossexual, é importante que seja respeitado(a) como qualquer outra pessoa. Como é.

O Grupo:

Nessa idade o que o grupo fala, é lei!
Vocês já notaram, por exemplo, como os amigos, a “patota”, influenciam no comportamento dos jovens?

É porque estão passando por um período que não é mais de criança, nem ainda de adulto. Então, nessa fase, vivenciam uma identidade grupal. E é através do grupo, que vão buscar a autonomia - negando a criança, que lembra a dependência dos pais - para continuar crescendo e atingir a maturidade.

Finalizando, como fica pai e mãe nessa história?

O papel de pai e mãe - ou de quem cuida do jovem - , abertos ao diálogo e não fazendo o papel de censores, será decisivo para que a garotada tenha uma vivência saudável de sexualidade. No entanto, é importante sabermos que por mais que tenhamos pais abertos e presentes, essa experiência inevitavelmente ocorrerá, porque são experiências muito individualizadas e únicas.
E quanto mais próximos estiverem, sem aquela indecisão costumeira - “Não faz isso. Afinal, você já é um homem!”. Para em seguida, “nada de chegar tarde em casa, hem?, você não tem idade pra isso” - , característica de quem tem dificuldade em aceitar que o(a) filho(a) já cresceu, melhor será para que o adolescente passe por essa etapa da vida sem maiores problemas. Não acha?


* Sexólogo. Consultor para a Coordenação Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde.
Coordenardor Geral do CORES – Centro de Orientação e Educação Sexual, ONG localizada no Rio de Janeiro. Autor, premiado pela Academia Brasileira de Letras, de livros sobre sexualidade.

"Eu sou viciado em sexo"


O drama de quem perdeu a família, o emprego e até a saúde para atender a um desejo insaciável e doentio. Como identificar e tratar esse distúrbio do prazer.
LETÍCIA SORG

Ricardo, engenheiro carioca de 41 anos, passou grande parte de seus anos de faculdade na noite. Saía desde terça-feira e se achava um garanhão: fazia sucesso com as amigas dos amigos. Quando não havia mais a quem ser apresentado, Ricardo passou a dedicar cada vez mais tempo a encontrar novas parceiras. Os amigos, as conversas e mesmo os estudos foram ficando para trás. A qualquer lugar que ia, sua preocupação era encontrar mulheres. A urgência era tão grande que um dia foi pego por um policial fazendo sexo com uma mulher dentro do carro, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Por pouco não foi parar na delegacia. Desconfiou que tinha um problema quando a fixação no sexo o levou a trancar a faculdade.  

(Foto: Shutterstock)

• Mário, um profissional de saúde paranaense de 40 anos, tinha um bom relacionamento com a mulher, mas sempre se sentiu atraído por homens. Nunca transformara o desejo em prática, até que, num bate-papo on-line, marcou encontro com um desconhecido. Depois do primeiro, seguiram-se vários nos dois anos seguintes. Em uma semana, foram oito. Mário nem sabia seus nomes. Envergonhava-se daquele comportamento e o escondia. Um dia, descuidou-se. Deixou o programa de chat aberto no computador. A mulher descobriu e, arrasada, pediu a separação. Depois do divórcio, Mário entrou em depressão, começou a beber e, com medo de se tornar dependente de álcool, decidiu buscar ajuda. Descobriu no Alcoólicos Anônimos que seu problema não era a bebida, mas o sexo.

• Hugo, um corretor de seguros de 40 anos, de Fortaleza, tentou três vezes seduzir a própria sogra. Colocou a culpa na bebida, mas era só a fantasia crescendo. Quando ia para a praia, tinha de se masturbar no mar e, mesmo casado, tinha relações com várias mulheres, prostitutas entre elas. Chegou a pagar passagem de avião e hospedagem para uma delas visitá-lo. Um dia, voltando de uma festa em que não tinha ficado com ninguém, decidiu passar pela Avenida Beira-Mar, ponto de programas. Com o cartão de crédito estourado e sem dinheiro no banco, foi parar na casa de uma prostituta na favela e pagou com um tíquete-refeição. Nesse momento, percebeu que sua relação com o sexo não era como a de seus amigos. 

• Caio, um produtor musical de 48 anos, de São Paulo, viu sua vida sexual com a mulher murchar depois do nascimento da primeira filha. Na mesma época, suas viagens a trabalho se intensificaram. Longe de casa, num ambiente de festas, drogas e sexo, começou a ter aventuras. Durante a semana, voltava para a família e se acalmava. Mas a ansiedade por novos encontros aumentou, e Caio chegou a se hospedar sozinho num hotel em São Paulo em busca de mulheres. Numa das viagens de trabalho, numa festa, bebeu um pouco a mais e acabou ficando com um homem, mesmo sem nunca ter tido experiências homossexuais. Sua mulher desconfiou quando descobriu uma doença venérea.

• Cátia, uma economista de 54 anos que mora no Rio de Janeiro, não teve muitos parceiros. Mas sua vida era tragada pelo sexo dentro dos relacionamentos. Passou uma semana trancada no quarto, deixando para trás o trabalho num órgão público e o cuidado com as duas filhas. A necessidade de sexo se sobrepunha até às orientações médicas de parar de transar durante tratamentos ginecológicos. Depois de várias relações intensas e destrutivas, Cátia perdeu o controle sobre o próprio desejo. Com o fim do último relacionamento, passou a se masturbar dirigindo e também no ambiente de trabalho.

Dependência de sexo, comportamento sexual compulsivo e transtorno hipersexual. Há dúvidas sobre como classificar o distúrbio de Ricardo, Mário, Hugo, Caio e Cátia (os nomes são falsos), que acabaram buscando ajuda médica ou psicológica. O debate sobre o que os aflige acontece há mais de um século. A primeira referência vem do psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebing, em seu livro Psicopatias sexuais, de 1886. Na obra, ele tenta categorizar o que chama de “desvios sexuais”. Discute a homossexualidade, o sadismo, o fetichismo e o que antigamente se chamava de ninfomania, o excesso feminino de sexo. Muitos dos comportamentos que Krafft-Ebing descreveu deixaram de ser considerados patológicos ao longo dos anos, das mudanças sociais e do avanço das pesquisas. O caso mais notório é a homossexualidade.


A mensagem  

Para você
O desejo sexual, quando atrapalha outras áreas da vida, pode não ser saudável

Para a sociedade
É difícil estabelecer um padrão de normalidade para o sexo sem moralismos. Os limites são individuais 

Mas o “desejo sexual excessivo” entrou para o rol do Código Internacional de Doenças, publicado pela Organização Mundial da Saúde. A quarta edição do Manual estatístico de doenças mentais (DSM, na sigla em inglês), a referência dos diagnósticos psiquiátricos, não tem uma categoria própria para o problema. Cita o comportamento sexual excessivo entre os “transtornos sexuais não especificados”. A próxima edição do DSM, prevista para 2013, deverá incluir uma menção a “transtorno hipersexual”.
É pouco provável, porém, que a nova classificação encerre o debate. Por dois motivos. Primeiro, porque sempre foi e será difícil estabelecer os parâmetros de normalidade do comportamento sexual humano. Não existe um limite ideal para o número de orgasmos ou para o tempo gasto com fantasias ou relações sexuais. Segundo, porque a quantidade de sexo, como sugere o termo “hipersexualidade”, não é o fator decisivo para o diagnóstico. “A dependência sexual não tem a ver com a intensidade da atividade sexual. Nem com sua frequência”, disse a ÉPOCA o psicólogo americano Patrick Carnes, fundador do International Institute for Trauma and Addiction Professionals e um dos pioneiros do estudo da dependência sexual. “A principal marca do vício são as consequências que alguém sofre por causa de sua atividade sexual.” Se a pessoa perde o emprego, para de estudar ou se afasta da família por causa do sexo, é sinal de que há algo errado. “Quando alguém passa todo o tempo pensando em sexo, planejando, fazendo e se arrependendo, em vez de trabalhar, curtir a família, os amigos e outras atividades prazerosas, é um problema”, afirma Carnes.


Sexo, crack e cocaína 
Ricardo, Mário, Hugo, Caio e Cátia consideram-se dependentes de sexo. Em muitos momentos, referem-se ao sexo como os dependentes químicos falam do álcool ou da cocaína, sempre exigindo doses mais altas em intervalos cada vez menores. “Foi como injetar droga na veia”, diz Ricardo. “Cada um acha o barato que encaixa melhor.” Ou Mário: “Prometia que não faria mais, mas não conseguia. Era infinitamente mais forte que eu”. Hugo diz que, na recuperação, teve síndrome de abstinência, com insônia. “Eu me sentia refém. Era uma vontade interminável que não se satisfazia”, diz Cátia.

(Foto: Shutterstock)

É possível depender de sexo como de cocaína ou crack? Para alguns cientistas, apenas o vício gerado por substâncias externas pode ser chamado de dependência. Outros afirmam que as pessoas podem viciar-se em sexo e outros comportamentos. As alterações químicas do cérebro durante o ato sexual justificam essa interpretação mais ampla da dependência. O orgasmo ativa, no cérebro, o mesmo circuito do prazer que as drogas e, como elas, liberam a mesma substância neurotransmissora, a dopamina. O uso repetido de drogas pode modificar a estrutura e a função desse circuito cerebral, gerando as características da dependência: aumento de tolerância à substância, crise de abstinência, compulsão e recaída. 


 Ainda não há estudos que mostrem que o sexo seja capaz de promover esse tipo de alteração neurológica. Mas há motivos para acreditar que fatores biológicos tenham participação no excesso de sexo. Alguns tipos de demência podem causar um aumento do desejo sexual. Certos remédios usados no tratamento de mal de Parkinson também podem elevar a libido. Eles alteram o efeito da dopamina, o mesmo neurotransmissor do prazer sexual. “Isso reforça a ideia de que existe algo diferente no funcionamento do cérebro de quem é compulsivo por sexo”, diz o psiquiatra Marco de Tubino Scanavino, responsável pelo Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo. A química do cérebro é, porém, apenas parte da explicação para o problema de Ricardo, Mário, Hugo, Caio e Cátia. Assim como nem todas as pessoas que experimentam drogas ficam dependentes, apenas uma pequena parcela da população sexualmente ativa desenvolve uma compulsão por sexo. O psicólogo Patrick Carnes estima que 3% a 6% das pessoas se enquadrem nessa categoria. Isso significaria, no Brasil, mais de 9 milhões de pessoas. A grande maioria homens – o sexo masculino representa entre 80% e 90% dos dependentes, segundo estudos.

Gostar de fazer sexo – e fazer com muita frequência – não significa uma relação de dependência com esse tipo de prazer. Celebridades que já se declararam “viciadas em sexo”, como o rapper Kanye West, o ator Michael Douglas, o golfista Tiger Woods e a apresentadora Adriane Galisteu (veja  no quadro acima), dificilmente se encaixam nesse perfil. “Essas celebridades que se dizem viciadas em sexo estão banalizando o conceito”, afirma o psicólogo Thiago de Almeida, especialista em questões de relacionamento. Em geral, os famosos têm muito mais oportunidades que alguém comum de fazer sexo porque são mais admirados e assediados. E podem se quiserem aproveitar-se disso, relacionando-se com vários parceiros. Eles podem até se apropriar do diagnóstico para justificar escapadas conjugais e tentar reverter uma crise de imagem. Foi o que fez o parlamentar americano Anthony Wiener, que procurou tratamento depois que suas fotos e mensagens de conteúdo sexual para usuárias do Twitter foram descobertas. Esse comportamento não torna essas pessoas dependentes, no sentido clínico.
  

Como identificar a dependência? 
“Ter uma expressão maior da sexualidade, em si, não é um problema”, diz o psicólogo Oswaldo Rodrigues Junior, diretor da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana. “O problema fica flagrante quando essa sexualidade não está funcionando a favor da pessoa e prejudica outras áreas da vida.” Ricardo patinou no início da carreira – justamente no período em que deveria ter mais gás para trabalhar – porque estava totalmente fixado em sexo. Para manter a busca por parceiros, Mário terceirizou o gerenciamento de sua clínica, foi passado para trás e perdeu pacientes. Por causa do vício, Hugo foi preterido em diversas oportunidades de promoção e acabou demitido da empresa multinacional em que trabalhava. Caio não teve problemas no trabalho, mas suas mentiras e traições por pouco não arruinaram seu convívio com a família. Cátia foi ao fundo do poço emocional com o fim do último namoro, há sete anos, e não se envolveu mais com ninguém.


(Foto: Shutterstock)

Nem sempre quem sofre de dependência sexual consegue identificá-la com facilidade. “Em geral, o comportamento compulsivo começa no final da adolescência, início da vida adulta, e vai se agravando ao longo dos anos. Por isso, é difícil reconhecê-lo logo de cara”, diz o psiquiatra Marco Scanavino. O filme Shame (Vergonha), que estreará no Brasil em 2 de março, mostra esse processo de degradação relacionado à dependência sexual. No início da trama, Brandon Sullivan (interpretado por Michael Fassbender) é um jovem nova-iorquino de 30 e poucos anos, bem-sucedido, boa-pinta, que paquera as moças no metrô e conquista as gatinhas da balada. À medida que o enredo avança, Sullivan revela-se incapaz de criar relações com outras pessoas e de conter seus impulsos sexuais. Esse descontrole, como anuncia o tom sombrio do filme, leva-o a consequências trágicas. O diretor Steve McQueen foge dos julgamentos morais simplificados. O ponto principal do filme não é o comportamento sexual de Sullivan, que recorre à prostituição, à pornografia on-line, à masturbação e às relações casuais. Mas sim a insatisfação que permanece mesmo depois de tanto sexo. É comum alguém com compulsão sexual sentir um vazio, mal-estar ou desânimo assim que o orgasmo termina. Esses sentimentos negativos após o ato refletem, em geral, duas situações problemáticas, segundo os psiquiatras. A primeira é o uso inadequado do sexo. As relações sexuais são um meio de reprodução, uma fonte de prazer e uma forma de estreitar a relação com o parceiro. E não uma forma de buscar aprovação do parceiro, diminuir a ansiedade antes de uma prova ou descarregar depois de uma bronca do chefe. Eventualmente, o sexo pode até cumprir essas funções. Mas não pode ser a única estratégia do indivíduo para lidar com essas questões corriqueiras. “O sexo, em si, não é bom ou ruim”, afirma o psiquiatra Aderbal Vieira Junior, coordenador do Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico da Universidade Federal de São Paulo. “O que faz diferença é o sentido que atribuímos a ele. E é esse sentido que os pacientes precisam resgatar.”

O produtor Caio descobriu, em sessões de terapia, os motivos por trás de suas escapadas. “Tinha a ver com uma busca por aprovação e sucesso”, diz. “Precisava seduzir as meninas para me sentir vitorioso.” A economista Cátia concluiu, em sessões do grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (Dasa), que trocava sexo por afeto com seus parceiros, em relações destrutivas. “Usava o sexo para me automedicar”, afirma Hugo. Ele se refere às alterações químicas provocadas pelo sexo em seu cérebro. Num processo semelhante ao que ocorre com os dependentes químicos, Hugo precisava da “droga” não para ficar bem, mas para se sentir apenas normal.

O sexo entrou cedo na vida de Hugo. Cedo demais. Quando tinha 5 anos, a filha de um casal amigo de seus pais, então com 17, 18 anos, abusou dele. Embora não seja regra, o abuso sexual na infância e na adolescência pode aumentar a predisposição à compulsão sexual na vida adulta. Outro fator de risco, segundo estudos, é ter um histórico de dependência próprio ou na família. Esse foi o caso de Ricardo, cujo pai era alcoólatra, e de Cátia, que tem três irmãos dependentes químicos. Ser compulsivo em outros comportamentos – como compras ou comida – também aumenta as chances, assim como ter outras condições psiquiátricas, como transtorno de ansiedade ou de deficit de atenção.
Além do uso inadequado do sexo, a segunda causa para sentimentos negativos após o ato sexual é o descasamento entre o comportamento da pessoa e seus próprios valores. “Tinha uma atitude que não queria ter, mas não conseguia conter, e me sentia mal depois”, diz Hugo sobre as traições. Essa falha em atender às expectativas internas é uma fonte de estresse e mal-estar. Arrependimento, culpa e vergonha são palavras comuns entre os compulsivos para descrever o que sentem depois de fantasiar, se masturbar ou trair. Mesmo olhar pornografia ou se excitar no banheiro despertam essa reação negativa. Apesar de menos danosos para os relacionamentos do que uma traição, esses comportamentos são problemáticos para quem tem dependência, porque mantêm o padrão compulsivo.

Ter sentimentos ruins relacionados ao sexo é um importante critério para o diagnóstico da dependência sexual. “É preciso cuidado para não emprestar o discurso médico ao discurso moral”, diz o psiquiatra Aderbal Junior. “O padrão aparentemente disfuncional em relação ao sexo pode não ser dependência, mas escolha.” Para ele, o trabalho do profissional de saúde é ajudar as pessoas a adequar seus comportamentos a seus projetos de vida – não às regras morais da sociedade. Segundo esse raciocínio, só é dependente sexual quem se reconhece como tal – e procura ajuda.

Pornografia On-Line 

Em grande parte das vezes, não é o próprio dependente quem procura socorro. Segundo um estudo do psiquiatra americano Stephen Levine que será publicado neste mês na revistaNeuropsychiatry, os homens – a maioria entre os compulsivos sexuais – acabam indo buscar ajuda intimados pelas parceiras. Foi o caso de Caio, que chegou ao psiquiatra por indicação do ginecologista que atendeu sua mulher. Ela tinha ido fazer o tratamento para a doença venérea que o marido lhe transmitira.

(Foto: Shutterstock)

Um dos sinais que merecem atenção é o uso de pornografia, especialmente on-line. Alguns especialistas chegaram a dizer que o mundo digital é o “crack da compulsão sexual”. Mas a internet, sozinha, não é capaz de causar uma dependência de sexo. “A pornografia na internet e a masturbação, por si sós, não são um problema”, diz Carnes. A facilidade de acesso a conteúdo adulto pode, é claro, ser tentadora para quem já tem dificuldade de controlar seus impulsos. Hugo começou a frequentar com sua mulher um grupo de reflexão de casais na igreja. Várias vezes chegava atrasado porque não conseguia sair de casa a tempo. Ficava navegando por páginas pornográficas. Desde que entrou para o Dasa, decidiu usar o computador apenas quando tem alguém por perto. No grupo anônimo, os integrantes são incentivados a analisar o próprio comportamento e a estabelecer estratégias para lidar com a compulsão num programa de 12 passos, nos moldes do criado pelos Alcoólicos Anônimos na década de 1930, nos Estados Unidos.

Também em recuperação no Dasa, o paranaense Mário deixou de usar identidades falsas na rede. Era com uma conta secreta que ele marcava seus encontros com outros homens. No início, Mário até tentou falar sobre seu desejo por homens com a mulher, mas ela não quis ouvir. “Temos um ditado na irmandade: o tamanho de sua compulsão é o tamanho de seu segredo”, afirma Mário. “Como não podia falar, como tinha de ficar em sigilo, aquilo era uma fonte de sofrimento, vergonha e ansiedade.”

Uma das principais dificuldades para o tratamento adequado do vício em sexo é a falta de um interlocutor para falar do problema. Há poucos centros de atendimento especializado, como o Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Hospital das Clínicas e o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp, ambos em São Paulo, e poucos profissionais de saúde que saibam lidar com o tema. “Por isso, muitas vezes grupos como o Dasa acabam sendo a única alternativa”, afirma o psicólogo Oswaldo Rodrigues Junior.
Com mais informações disponíveis a respeito da dependência sexual, é provável que pessoas como Ricardo, Mário, Hugo, Caio e Cátia busquem tratamento mais cedo. E possam falar mais abertamente de seu problema. “Quando se fala em compulsão sexual, as pessoas levam para a brincadeira ou para o lado moral”, diz Hugo. “Muitos ainda dizem que não existe, mas só quem viveu sabe como é ruim.”

Fonte: revistaepoca.globo.com

8 de fev. de 2012

A SEXUALIDADE NORMAL E TRANSTORNOS SEXUAIS

O comportamento sexual humano é diversificado e determinado por uma combinação de vários fatores tais como os relacionamentos do indivíduo com os outros, pelas próprias circunstâncias de vida e pela cultura na qual ele vive. Por isso é muito difícil conceituar o que é "normal" em termos da sexualidade.

O que se pode afirmar em relação a isso é que a normalidade sexual está relacionada ao fato da sexualidade ser compartilhada de forma que o casal esteja de acordo com o que é feito, sem caráter destrutivo para o indivíduo ou para o parceiro e não afronta regras comuns da sociedade em que se vive.

A anormalidade pode ser definida quando há uma fixação em determinada forma de sexualidade ou em determinada pessoa, ou ainda quando a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer.

A anormalidade pode ser definida quando:
há uma fixação em determinada forma de sexualidade;
a pessoa não consegue desfrutar de outras formas de prazer, como, por exemplo, no voyeurismo em que só consegue obter prazer ao masturbar-se, observando pessoas sem o consentimento delas;
a pessoa não consegue ter relacionamento sexual com outras pessoas.


O que deve ser lembrado é que a sexualidade humana envolve, além do ato sexual em si, outras atividades, como fantasias, pensamentos eróticos, carícias e masturbação.

As fantasias sexuais são pensamentos representativos dos desejos sexuais mais ardentes de uma pessoa e tem a função de complementar e estimular a sexualidade, tanto da realização do ato sexual com um parceiro quanto da estimulação auto-erótica (masturbação).

A masturbação também é componente normal da sexualidade, e consiste no toque de si mesmo, em áreas que dão prazer ao indivíduo (áreas erógenas), que incluem os genitais e/ou outras partes do corpo, com a finalidade de obter prazer.

No ser humano, as sensações sexuais despertadas, seja por fantasias, por masturbação ou pelo ato sexual em si, ocorrem numa sucessão de fases que estão interligadas entre si, que são chamadas de as Fases da resposta sexual humana. São elas:
Desejo: Consiste numa fase em que fantasias, pensamentos eróticos, ou visualização da pessoa desejada despertam vontade de ter atividade sexual.
Excitação: Fase de preparação para o ato sexual, desencadeada pelo desejo. Junto com sensações de prazer, surgem alterações corporais que são representadas basicamente no homem pela ereção (endurecimento do pênis) e na mulher pela lubrificação vaginal (sensação de estar intimamente molhada).
Orgasmo: É o clímax de prazer sexual, sensação de prazer máximo, que ocorre após uma fase de crescente excitação. No homem, junto com o prazer, ocorre a sensação de não conseguir mais segurar a ejaculação, e então ela ocorre; e na mulher, ocorrem contrações da musculatura genital.
Resolução: Consiste na sensação de relaxamento muscular e bem-estar geral que ocorre após o orgasmo que, para os homens em geral, associa-se ao seu período refratário (intervalo mínimo entre a obtenção de ereções). Na mulher, este período refratário não existe: ela pode, logo após o ato sexual ter novamente desejo, excitação e novo orgasmo, não necessitando esperar um tempo para que isso ocorra novamente.


DISFUNÇÕES OU TRANSTORNOS SEXUAIS

Disfunções ou transtornos sexuais são problemas que ocorrem em alguma das fases da resposta sexual humana.
Disfunções Sexuais Femininas

Na mulher, as disfunções sexuais mais comuns são: as inibições do desejo sexual, a anorgasmia, o vaginismo e a dispareunia.

As inibições do desejo sexual ou transtorno do desejo sexual hipoativo, constituem a falta ou diminuição da motivação para a busca de sexo, ou seja, a pessoa não tem vontade de manter relações sexuais.

Isso ocorre mais comumente devido a:
problemas no casamento (brigas, desentendimentos quanto ao que cada um espera do relacionamento)
falta de intimidade
dificuldades de comunicação entre o casal, ou ainda, devido a tabus sobre a própria sexualidade, como, por exemplo, associações de sexo com pecado, com desobediência ou com punições
Inibições decorrentes de traumas sexuais (abuso sexual, estupro)
doenças, a problemas hormonais e ao uso de certas drogas e remédios.

O diagnóstico pode ser feito por médico clínico, ginecologista, psiquiatra ou psicólogo, através das queixas apresentadas pela paciente; dependendo das queixas, pode ser necessária a realização de exames, para se descobrir a origem da falta de desejo.

O tratamento se faz de acordo com a causa. Quando houver problemas clínicos (doenças), a paciente deve ser encaminhada para um especialista, quando necessário (por exemplo, um endocrinologista quando houver problemas hormonais), sendo que cada tipo de diagnóstico vai requerer um tipo específico de tratamento. Entretanto, a maioria dos casos deve-se a problemas psicológicos ou problemas no relacionamento do casal, e esses deverão ser tratados por psicólogo ou psiquiatra, tentando descobrir as causas, compreendê-las e resolvê-las.

A anorgasmia ou disfunção orgásmica é a falta de sensação de orgasmo na relação sexual. Pode ser primária, quando a mulher nunca teve orgasmo na vida, ou secundária, quando tinha orgasmos e passou a não tê-los mais. Ainda pode ser classificada em absoluta, quando a anorgasmia ocorre sempre, e situacional quando ocorre só em certas situações (por exemplo, em certos locais em que a pessoa não se sente confortável, ou com parceiro com o qual tenha algum tipo de conflito). A mulher com anorgasmia pode aproveitar plenamente das outras fases do ato sexual, isto é, tem desejo, aproveita as carícias e se excita, porém algo a bloqueia no momento do orgasmo.

As causas da anorgasmia são principalmente psicológicas, envolvendo problemas nos relacionamentos interpessoais, conflitos a respeito da sexualidade, falta de conhecimento do próprio corpo e sensações, dificuldade na intimidade e comunicação do casal em assuntos sobre sexo. Problemas clínicos também podem causar anorgasmia, por exemplo, acidentes que atingem a medula espinhal, alterações hormonais, corrimentos vaginais freqüentes ou ainda anormalidades na forma da vagina, do útero ou dos músculos que formam a região pélvica (região onde se situam os órgãos genitais).

O vaginismo é uma contração inconsciente, não desejada, da musculatura da vagina, que ocorre quando a pessoa imagina que possa vir a ter um ato sexual. Essa contração atrapalha ou impede a introdução do pênis, a qual, se for tentada causará muita dor, sendo que na maioria das vezes o casal não consegue ter ato sexual com penetração.

Pode ser conseqüência de uma educação rígida que provocou muitos tabus sexuais gerando conflitos psicológicos, conseqüência de traumas sexuais (estupro ou abuso sexual) ou de experiências sexuais anteriores que tenham causado sofrimento físico.

O diagnóstico é feito em geral pelo ginecologista, através do relato da paciente e também pelo exame ginecológico. O tratamento consiste em identificar e tentar modificar a causa do vaginismo.

Esse tipo de tratamento é feito por ginecologistas ou terapeutas sexuais, e consiste na realização de exercícios genitais com a intenção de conseguir o relaxamento da pessoa, tentando evitar que ocorra a contração no momento do ato sexual e no entendimento das causas psicológicas associadas.

Esse tipo de tratamento é feito por ginecologistas ou terapeutas sexuais, e consiste:
no entendimento das causas psicológicas
na realização de exercícios genitais com a intenção de conseguir o relaxamento da pessoa, tentando evitar que ocorra a contração no momento do ato sexual.

A dispareunia é a dor genital que ocorre repetidamente antes, durante ou após o ato sexual.

As causas mais comuns são doenças ginecológicas (tipo corrimento vaginal ou alterações no formato da vagina) ou contração da musculatura vaginal durante o ato sexual, devido a conflitos psicológicos relativos à sexualidade.

O diagnóstico em geral é feito pelo ginecologista, também se faz pela análise das queixas da paciente e do exame ginecológico e o tratamento será de acordo com a causa, isto é, tratamento para a doença diagnosticada, feito em geral pelo próprio ginecologista ou tratamento com psicólogos ou psiquiatras, quando o problema for decorrente de conflitos psicológicos.


IMPOTÊNCIA

Mito Masculino - Temor de Desempenho



Vivemos ainda em uma sociedade muito machista, infelizmente para todos nós. Para os homens, em especial, existe uma pressão desenfreada para a atividade sexual predatória. O que caiu na rede é peixe! E existe, por sinal, um mito milenar de que os homens estão sempre aptos ao sexo, independente de qualquer outro fator. Devem sempre estar com desejo, devem ter plena ereção e não falhar jamais.

Essa situação é um peso muito grande para os ombros de qualquer um. A bem da verdade, qual o homem ao qual nunca lhe faltou potência?

Qual a mulher cujo parceiro já não perdeu a ereção alguma vez na vida?
É necessário desmistificar essa situação. A impotência (disfunção erétil) só se torna um problema ou uma doença quando ela predomina na vida sexual de um homem. Ou seja, quando há uma
incapacidade persistente ou recorrente (repetida) de manter uma ereção até a conclusão da atividade sexual. Alguns se queixam de falta completa de rigidez para conseguir uma penetração. Outros conseguem ter o pênis rijo, mas na hora de introduzi-lo perdem a potência.

Atenção! a eventual ocorrência de perda de ereção não é considerada impotência.
O que causa a perda da ereção?
As pesquisas são contraditórias: algumas apontam que 90% da impotência tem causa emocional.
O estresse do dia-a-dia.
A discórdia conjugal.
A falta de atração pela parceira.
A ansiedade ou depressão.
O temor de não desempenhar o sexo adequadamente.
Conflitos emocionais antigos.
Culpa e repressões sexuais.
São algumas das causas psíquicas comuns.
Outros trabalhos científicos relatam que a disfunção erétil nos homens é, na maioria dos casos, orgânica, principalmente quando o homem tem mais que 50 anos.
A deficiência de alguns hormônios masculinos como a testosterona.
Excesso de prolactina.
A presença de algumas doenças como o diabete melito.
O uso de medicações que combatem a hipertensão.
A anormalidade vascular peniana.
São fatores orgânicos importantes a serem levados em consideração na avaliação dessa disfunção sexual.
E tem cura?
Podemos pensar que há uma soma desses fatores orgânicos e emocionais na determinação da impotência. Para o tratamento, então, devemos combinar algumas técnicas terapêuticas para obtenção de maior sucesso.
Após alguns exames de rotina, detectamos a presença ou não de algum problema orgânico. Por exemplo, se há falta de testosterona, podemos repor através de uso de medicação. Se há problema vascular ou neurológico, podemos até indicar cirurgia ou colocação de prótese. Entretanto, tais métodos mais evasivos são de última escolha no tratamento da impotência, só utilizados quando quaisquer outros métodos já falharam completamente.
Quando não há muitos achados positivos nos exames, podemos empregar um tipo de tratamento psicológico, denominado psicoterapia cognitivo-comportamental, que é baseado em tarefas sexuais progressivas e orientação.
O uso concomitante de algumas medicações que provocam a ereção tem elevado o sucesso terapêutico em muitos casos. Entretanto, os mesmos nunca devem ser utilizados sem acompanhamento médico especializado.

Dependentes de sexo lutam para se livrar da compulsão

Distúrbio faz a busca pelo prazer ser incontrolável e destrói vidas.
Universidade paulista e entidade DASA oferecem ajuda.

Carolina IskandarianDo G1 SP
Dependentes de SexoLeonardo, em site de bate papo; encontro pode ser
marcado na hora (Foto: Carolina Iskandarian/ G1)
“Eu chegava a sair com seis ou sete mulheres em uma só noite. Enquanto não acabasse o dinheiro, a adrenalina, até eu ficar exaurido, eu não parava. Depois, sentia uma grande culpa e depressão.” O relato é do representante comercial Galego (nome fictício), de 46 anos, que há sete faz tratamento contra a compulsão sexual em São Paulo.

O drama dele é o de muitos que vivem no anonimato. Caracteriza a chamada dependência do sexo ou disfunção sexual. Pessoas que, à procura da satisfação da libido, com parceiros ou não, perdem o controle. Galego conta que pagou tanto para ter prostitutas, bebidas e drogas que faliu. “Em 26 anos, gastei R$ 1 milhão com a compulsão.”

Histórias da vida real foram parar na ficção. Na novela da TV Globo Passione, Maitê Proença é Stela, uma mulher casada que tem fissura por homens mais jovens. Faz sexo com eles sem querer saber seus nomes ou marcar o próximo encontro. Em Caminho das Índias, a personagem Norminha, interpretada por Dira Paes, amava o marido, mas não tinha o menor pudor em traí-lo com um monte de desconhecidos.

A pessoa não tem controle sobre o desejo sexual. É a necessidade de buscar mais prazer, mais parcerias. Isso pode ser através do sexo ou da masturbação”, explica o psiquiatra Alexandre Saadeh, especialista em sexualidade humana.

Prazer virtual

Olhava para um cara na rua e saía com ele ou transava com gente que encontrava em baladas GLS""
Leonardo- dependente
Com as redes sociais, o problema se agrava. “Tem gente que passa o dia inteiro programando atividades sexuais e a internet é ótima para isso”, afirma o médico, que faz parte do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e dá aulas na PUC-SP. O estudante Leonardo (nome fictício), de 29 anos, até tentou, mas não gostou da experiência do sexo virtual.

“Você se decepciona porque as pessoas não são o que dizem. Teclam com você e com outras tantas ao mesmo tempo”, diz o rapaz. Para preencher o vazio de um relacionamento amoroso ruim, Leonardo, que é homossexual, buscou parceiros fora de casa. Isso começou há oito anos. “Olhava para um cara na rua e saía com ele ou transava com gente que encontrava em baladas GLS”, admite.

Segundo Leonardo, podiam ser cinco pessoas por semana ou duas por dia. “Eu estava totalmente perturbado, sem autoestima. Saía para ouvir dos outros que era bonito, elegante, gentil. Era o que eu não tinha no meu relacionamento”, conta ele, que há dois anos namora, se diz feliz e “equilibrado”.

Ajuda no DASA
Mesmo assim Leonardo continua a frequentar a entidade Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA). A filosofia deles é a mesma da dos Alcoólicos Anônimos (AA). Pessoas se reúnem em sessões periódicas para compartilhar os problemas. São as partilhas. Tudo é na base do diálogo e na premissa de que “só por hoje” o dependente será uma pessoa melhor, sem recaídas.

No caso do DASA, os dramas são relacionados à compulsão pelo sexo, pelo prazer ou insatisfações nos relacionamentos amorosos. “Cheguei lá e vi gente com problemas iguais aos meus. Eu me confortava em saber que não estava sozinho, que não havia preconceito e, sim, muito respeito”, afirma Leonardo sobre o DASA.

As reuniões são uma parte do “tratamento”, que é gratuito e dispensa remédios. A programação foca nos 12 passos, espécie de mandamentos que podem ajudar no processo de recuperação. Eles sugerem que os dependentes admitam o problema, rezem e até façam um “destemido inventário moral” delas mesmas para tentar reparar o mal que possam ter feito a outros. “Nossa finalidade é fazer com que a pessoa se relacione melhor com ela e com os outros de forma saudável”, explica Galego, um dos porta-vozes da entidade.

Tive um paciente que foi à sauna gay e transou com 80 pessoas em um fim de semana"
Aderbal Vieira Jr., psiquiatra
De acordo com o site do DASA, as reuniões acontecem em quatro endereços da capital paulista. Em agosto, Galego acumula sete anos de DASA e de histórias. “Tenho um companheiro de sala que se masturba 40 vezes por dia. Até sangrar. É muito difícil. Você quer parar e não consegue.” Galego afirma que, graças ao apoio que encontrou na entidade, recuperou “muitas áreas” de sua vida, como o relacionamento com a filha e dinheiro.

“Quando a pessoa chega ao DASA está detonada. Depois, começa a progredir e se afasta. Aí podem vir as recaídas”, completa Galego, que acredita ser difícil haver uma cura definitiva. A doutora em psicologia pela PUC-SP Ana Maria Zampieri concorda. “Não existe cura. Existe estar em abstinência da compulsão para o resto da vida”, atesta ela, que publicou livros sobre o tema da sexualidade.

Para Ana Maria, a busca incontrolável pelo prazer tem explicações “biológicas, psicológicas e socioculturais”. Situações de abandono ou abuso sexual na infância podem desencadear o problema. “As crianças abusadas se tornam adultos carentes, que misturam carinho, atenção com sexo. Buscam exaustivamente preencher um vazio que não vai ser satisfeito com o sexo.” O distúrbio ainda pode afetar pessoas muito tímidas, que não conseguem se relacionar.

O funcionário público de São Paulo Fabiano (nome fictício), de 41 anos, conta que foi abusado sexualmente por sua babá aos 3 anos de idade. Acredita que isso influenciou no seu comportamento no futuro. Em 1999, ele disse "estar no auge" da compulsão. "Eu não conseguia ficar um dia sem sexo. Saía antes e depois do trabalho para procurar mulheres", revela ele, que gastava dinheiro com garotas de programa.

Fabiano chegou a colocar anúncios em jornais para arrumar namorada e diz que sempre foi um menino "muito carente" e, por isso, procurava prostitutas para suprir isso. Quando se casou pela primeira vez, aos 20 anos, pareceu ter encontrado a parceira ideal. "A gente chegava a ter 20 relações por dia." Hoje, casado novamente, o funcionário público se diz controlado e aliviado em não ter mais a síndrome da abstinência sexual. "Sentia dores no corpo, calor excessivo, irritação e insônia."

Proad
Há outro caminho para tratar a compulsão sexual: a psicoterapia. O Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), oferece essa ajuda. Os médicos criaram o Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico em 1994. “As pessoas têm devaneios, ficam imaginando o sexo de maneira que não conseguem desligar e a perda de controle é que define a dependência”, conta o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, do Proad.

Segundo ele, o problema atinge tanto homens e mulheres casados como solteiros. Seja de vida pacata seja de vida promíscua. “Tem gente que vai à sauna gay e passa o fim de semana lá. Tive um paciente que fez isso e transou com 80 pessoas”, relata Vieira Júnior. “A pessoa faz quando quer, como quer e com quem quer.”

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