NOSSAS EXPERIÊNCIAS

15 de jan. de 2012

Walmir Lopes - Setembro de 2002 a Março de 2003
Meu nome é Walmir, há cerca de cinco anos atrás eu e minha esposa contraímos o vírus HIV. Nessa época eu estava trabalhando em uma empresa de confecções. Minha esposa adoeceu, levei-a a uma clínica que pertencia ao convênio da empresa, lá foi diagnosticada a meningite, e também que ela era soropositiva. Após fazer o teste descobri que eu também estava contaminado.
Iniciei meu tratamento na Fundação Zerbini, no ambulatório conhecido como Casa da AIDS. Minha esposa continuou o tratamento através da clínica conveniada pela empresa.
Fui chamado para uma conversa por um diretor da empresa, senhor José; ele era amigo da família e inclusive freqüentava a casa dos meus pais. Durante a conversa o senhor José disse-me "Walmir, eu já sei de tudo o que está acontecendo, mas pode ficar tranqüilo que isso ficará entre nós dois, e não contarei nem para os funcionários, nem para os patrões". O senhor José entrara algumas vezes em contato com a clínica onde minha esposa fazia tratamento para saber como ela estava.
Fiquei mais aliviado, pois estava consciente que eu era um bom funcionário, e estava em perfeita condição para o trabalho.
Passados alguns dias, o senhor José comunicou-me que não seria mais o meu diretor, e que eu estaria subordinado ao senhor Célio.
Logo em seguida minha esposa faleceu, e três meses após fui demitido. O mundo desabou sobre a minha cabeça. Estava viúvo, com dois filhos pequenos, e agora desempregado.
Aos poucos a situação foi clareando, descobri que alguns colegas de trabalho já sabiam da minha doença. Procurei uma advogada para acionar a empresa por discriminação. Conversei com colegas de trabalho que aceitaram ser minhas testemunhas no processo.
Estou processando a empresa não pelo dinheiro, pois todo o dinheiro do mundo não paga a humilhação que passei diante de amigos e familiares.
Estou confiante na vitória, pois a justiça será feita, e com certeza outros pensarão bem antes de discriminar seus funcionários pelo fato de terem o vírus HIV correndo em suas veias.


'Não Negligenciei a VIDA'
Abel - Março a Agosto de 2001

Começo este depoimento me apresentando, me chamo Abel, tenho 37 anos de idade e 13 anos de soropositividade, devido a uma relação sexual desprotegida.
No final de 1988, me convidaram para doar sangue para ajudar um parente necessitado, foi quando fiquei sabendo da realidade que seria a minha vida daquele momento em diante.Na época com 25 anos, reiniciando o curso de Direito, trabalhando, fazendo planos para um futuro profissional e familiar, pois o meu sonho seria ter um filho por volta dos trinta anos, idade que meu pai se casou. Sempre me imaginei nessa condição, mas naqueles anos a morte era certa e não existiam terapias convincentes como os antiretrovirais de hoje, mas enchi-me de forças, pensei positivamente e não negligenciei a VIDA. Pelo contrário, procurei ajuda, seguia as recomendações do meu médico que solicitava exames a cada três meses.
Passados sete anos meu companheiro faleceu vitimado de AIDS. Foi um duro golpe para mim, pois havia perdido aquele que havia despertado em mim o interesse pela VIDA. A partir daí fiquei muito deprimido e os resultados dos meus exames ficaram péssimos, precisando de medicação apropriada para depressão, pois vivia excluído do mundo, evitava os amigos e me sentia desanimado para o trabalho.Os efeitos colaterais dos remédios são os piores vilões. A lipodistrofia me deixou com o rosto murcho, diarréias freqüentes, refluxo gástrico, herpes.
Procurei um grupo de ajuda mútua e encontrei o GIV, no qual me tornei voluntário e participo de um projeto com crianças e adolescentes. A minha família foi de grande importância no meu tratamento, pois passei a compartilhar com eles a minha soropositividade desde o momento que precisei fazer uso das medicações e da morte do meu companheiro.
Ainda estou em fase de resgate clínico, mas sempre penso positivamente e procuro terapias que me auxiliam no tratamento, como a yoga, caminhadas, preenchimento estético da face, muito amor da minha família e dos amigos que restaram.
Meu médico é meu melhor amigo, tenho muita confiança nele, nós conversamos muito sobre tudo o que passa na minha VIDA e é por causa desse diálogo franco e aberto que tenho respostas de como avançar firme no meu tratamento.
Ser portador não me faz diferente de qualquer outra pessoa que tem dor de barriga, pneumonia, dores nas pernas e muitas outras coisas. Sou feliz, e me despeço com um brilho no infinito dos teus olhos.
Meus beijos.


Brincadeira
L.D.R. - Maio a Junho de 2000

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