NOSSAS EXPERIÊNCIAS

3 de jan. de 2012

             Papo cabeça com profissionais do Recife



                                                                                         
Juntas elas somam 76 anos de prostituição. Vânia já fez 50 e tem 30 na vida; Luciane, 29 e 15 de batalha; Nanci está com 43 e acumula 24 anos de experiência, e Amábile, aos 28 anos, é a caçula na profissão – está nela desde os 21. O papo com essas profissionais do sexo (como preferem ser chamadas) não poderia ter ocorrido em lugar mais apropriado: Recife Antigo. Ou "o Bairro" – como os pernambucanos o chamam orgulhosamente –, entre as águas escuras do rio Capibaribe e o verde do mar. Com a restauração e a revitalização, Recife Antigo se tornou o lugar mais charmoso da cidade, onde ocorre o agito da noite e a mistura de tribos e turistas. Antiga zona de prostituição, o Bairro já abrigou puteiros famosos. Mas nem tudo é festa no Recife. Alguns donos de bares expulsam as mulheres das proximidades e a polícia sempre dá razão ao cliente, mesmo ao caloteiro. Por isso, elas decidiram fundar uma associação e defender seus direitos, com o apoio da ONG Cais do Parto.

BEIJO – Como é ser puta em Recife?

VÂNIA – Tem muita repressão. Na rua alguns bares fecham as portas quando estamos em frente, nas calçadas. Os donos e os seguranças expulsam a gente, quando somos nós que atraímos os turistas.

BEIJO – Quanto custa um programa?

NANCI – O preço do programa varia de 20 a 30 reais. Mas em época de movimento fraco cai para 10. Tem gente que faz por 5.

AMÁBILE – Quando saio com estrangeiro cobro 50 dólares, fora a cabine, que custa uns 10 dólares.

LUCIANE – Eu trabalho em Olinda numa casa noturna. Lá o programa fica entre 25 e 40, quando é cliente novo.

BEIJO – No carnaval, como é o movimento?

LUCIANE – É muito pior. Tem uns que querem transar sem pagar.

BEIJO – São turistas?

NANCI – Nada. É gente daqui mesmo... fica tudo bêbado querendo trepar de graça. E as praças são fechadas semanas antes do período carnavalesco.

BEIJO – Vocês estão pretendendo criar uma associação. Em que ela poderá contribuir para a vida de vocês?

LUCIANE – Lutar pelos direitos e se reunir para que não acabe.

NANCI – Mais força para lutar, juntar mais força das colegas.

AMÁBILE – Organizar as garotas de programa, resolver problemas, dar apoio.

BEIJO – Vocês estão gostando de se unir para criar a associação?

LUCIANE – Estou gostando, pois existe ensinamento de como conviver com as colegas e as pessoas.

AMÁBILE – Estou gostando. Existe comunicação e fico muito à vontade

NANCI – Estamos escrevendo o estatuto, que é uma forma de legalizar a associação das profissionais do sexo, estar dentro das leis, ser respeitada.

BEIJO – Já enfrentaram alguma situação de perigo?

AMÁBILE – Um homem me prendeu durante uma hora num apartamento e tampou todos os buracos e janelas. Só consegui fugir quando pedi para fazer xixi. Isso foi quando eu trabalhava em Maceió.

VÂNIA – Passei por um perigo há uns nove meses. O cliente estava muito bêbado e dirigindo.

BEIJO – Gostam da profissão?

LUCIANA – Sim

NANCI – Sim. Fiz muitas amizades e tenho clientes ótimos.

AMÁBILE – Não. Só por sobrevivência.

BEIJO – O que vocês não gostam numa transa?

AMÁBILE – Homem agressivo que não sabe ter relação. E os que têm fantasias de apanhar, fazer xixi, fazer cocô, pedir para ser chamado de verme, e usam revólver.

VÂNIA – Não deixo o cliente me dar pancada. Não gosto de homem que machuca.

BEIJO – Já sentiram prazer com cliente?

NANCI – Já, mas tem de ser carinhoso. Só gozo com carinho.

LUCIANE – Com homem carinhoso.

BEIJO – O que faz vocês gozarem?

AMÁBILE – Quando sou chupada e ao mesmo tempo me faz carinho nos seios. Pode ser homem ou mulher, sendo carinhoso.

VÂNIA – Quando o cliente faz bastante carinho. Quando pega no meu clitóris e nos meus seios. Tanto faz ser homem ou mulher, gozo do mesmo jeito.

LUCIANE – Relação completa, com sexo oral e sem pressa.

NANCI – Também acho. Adoro tapa no meio da bundinha. Outra coisa: só gosto de transar gritando ou falando. Uma vez um homem disse que eu estava gritando de prazer pensando na grana que ia ganhar dele.

BEIJO – Qual o tamanho do pênis ideal?

AMÁBILE – Médio.

NANCI – Não importa o tamanho. Estando duro!

VÂNIA – Importa. Não gosto de pênis grande.

LUCIANE – Tanto faz. Mas o médio é melhor.

BEIJO – O que acham do cliente que fica pechinchando? LUCIANE – Já deixei de fazer programa por causa disso.

NANCI – Acaba todo o tesão. Fico logo sem rebolado.

BEIJO – E quando ele se torna um chato?

VÂNIA – O cliente fica chato quando quer mandar muito na transa. Ele não transa! Quer fazer ginástica! Fica mandando a gente virar pra lá e pra cá, abrir a perna assim, ficar de quatro e dando ordens. Aí eu perco o tesão. Já desci e deixei cliente por isso.

AMÁBILE – Aquele que além de pechinchar fica perguntando o que vai rolar.

BEIJO – Com que idade treparam pela primeira vez?

AMÁBILE – 18 anos.

NANCI – Na boléia do caminhão. Levei minha primeira chupada com 16 anos.

LUCIANE – Tinha 12 anos e foi na época de carnaval. Daí tive uma filha que hoje está com 16 anos.

VÂNIA – Já estava velhinha! Foi aos 17 anos, na praia.

BEIJO – Qual o melhor cliente?

LUCIANE – O melhor cliente é o coroa que não tem pau mole, não demora muito a subir e é bom pagador. (Todas concordam.)

BEIJO – Você, Nanci, sempre trabalhou nas ruas?

NANCI - Quando eu era mais nova fui stripper em boates. Já ganhei muito dinheiro – com a profissão criei dois filhos.

BEIJO – O que vocês não fazem na transa?

NANCI – Faço de tudo... dependendo do homem. (Todas concordam.)

BEIJO – E a prevenção?

TODAS – Sempre de camisinha!

>> AS REINVIDICAÇÕES

Respeito e segurança Levamos xexo (calote). Não há garantia de recebimento do dinheiro. Quando o cliente não quer pagar, a gente chama a polícia e os policiais dão razão a ele.

Saúde Melhores pensões. As que utilizamos são sujas. Lençóis e toalhas só são trocados depois de usados várias vezes, o chão é cheio de fezes e urina, muitos banheiros não têm água corrente. Vivemos com problemas de pele pois não existem condições de higiene.

Sanitários públicos Banheiros públicos perto das áreas de prostituição porque não podemos subir nas pensões quando não estamos com cliente.

>> A SOLUÇÃO

Nós, mulheres profissionais do sexo, devemos nos unir para formar um sindicato de trabalhadoras do sexo do Recife. Para isso precisamos da cooperação de todas que trabalham neste ramo. E digo trabalho porque tudo que se faz por dinheiro é um trabalho. Muita gente não considera como tal e por isso nos discrimina. Então, mulheres, vamos à luta pelos nossos direitos! Direito de ter uma associação ou sindicato, até porque também pagamos nossos impostos, então também merecemos respeito. Coisa que muita gente não tem por nossa pessoa. Vamos à luta, mulheres, e chega de discriminação! MARGARETH, prostituta do Recife

Fonte: Sidney Motta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tradutor