Vivência da entrevista fenomenológica com prostitutas: relato de experiência Isabel Cristina Cavalcante Carvalho Moreira; Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Universidade Federal do Piauí. Grupo de Estudos sobre Enfermagem, Violência e Saúde Mental. Teresina, PI
RESUMO
Este artigo tem por objetivo descrever minha vivência na obtenção dos depoimentos utilizando a entrevista fenomenológica. Foram entrevistadas onze prostitutas em Teresina, PI. No caminhar dessa etapa vários momentos foram marcantes como: a estratégia de aproximação com as depoentes, o local das entrevistas e o próprio relato emocionante das prostitutas. Esse meu caminhar possibilitou-me identificar que é necessário familiarização e empatia com os sujeitos da pesquisa, que não existe formula para a condução da entrevista, mas cabe ao pesquisador identificar as dificuldades e propor estratégias para a obtenção dos relatos. Assim é que a relação empática vivenciada por mim na obtenção dos relatos das mulheres depoentes no seu mundo-vida por meio da entrevista fenomenológica foi fundamental para compreensão do vivido da violência no cotidiano da prostituição.
Descritores:Prostituição; Violência; Enfermagem. A prostituição feminina é uma prática que acompanha a história da humanidade de tal modo que nenhuma civilização escapou da sua convivência. Esta atividade constitui-se em uma troca de satisfação sexual versus remuneração e hoje, apesar da liberação sexual ainda se mantém como forma de iniciação sexual de jovens. As mulheres que oferecem satisfação sexual em troca de remuneração vão perdendo seu corpo e destino, pois passam a desconstruir as relações de proteção e direito individual e coletivo, surgindo neste cenário os fatores de risco(1). Um dos fatores de risco está relacionado às agressões, pois, nesta atividade as mulheres, não escolhem os clientes e a violência neste cenário é constante. Não se trata apenas de violência física, mas, sobretudo são comuns os abusos sexuais, trafico, estupros, roubos e a violência psicológica manifestada por humilhações, ofensas verbais e morais. Outro risco, por qual passa a prostituta, diz respeito às questões de saúde publica pela vulnerabilidade frente a vulnerabilidade da exposição às DST/AIDS. Além desses fatores pode também ser incluída a 'quebra do segredo', da prática da prostituição, em que muitas prostitutas escondem de seus familiares. A descoberta pode gerar conflitos, preconceito e mesmo dificuldade de permanecer nesta atividade.
Prostituição infantil: as filhas da noite
A primeira pergunta que se faz: o que leva uma criança a se prostituir ou ser prostituída?
Em primeiríssimo lugar a miséria. Em todos os sentidos. Ao perguntarmos, a resposta poderia ser dada em coro: por dinheiro. Dinheiro para comprar comida, sim, mas principalmente para comprar drogas. Logo que chegam às ruas, as meninas experimentam as drogas, muitas vezes oferecida pela "turma". Viciadas, elas roubam e se prostituem para comprar mais e, se não tiver, roubam e podem até matar. Na maioria das vezes tem sempre uma cafetina ou um cafetão por trás delas. Eles descobrem um ponto e começam a agenciar, muitas vezes trazem as meninas de longe ou das cidades satélites. Eles administram o negócio, mantêm as meninas dependentes e as protegem ao mesmo tempo.
Muitas delas andam em bandos e dormem nas ruas. Arredias, ariscas, desconfiadas, agressivas. Se chegarmos um pouco mais perto, veremos uma outra realidade. Uma carência que não cabe no corpinho franzino de algumas delas e uma total falta de compreensão do peso real do que fazem. Sem a mínima maturidade sexual ou emocional, elas não têm capacidade para avaliar e muito menos optar se realmente querem ser prostitutas.
Mas nada é certo ou exato. Não podemos homogeneizar essas crianças e traçar um perfil ou montar um quadro com características rígidas. Após o contato com várias meninas, pudemos constatar que muitas delas fazem parte de uma segunda geração de pessoas que já viviam na rua, ou seja, filhos de filhos da rua. Por aí já podemos entender que o problema é bem anterior e mais profundo do que podemos imaginar.
A desestrutura da família é um dos únicos fatores constantes. Muitas dessas meninas já sofreram algum tipo de violência ou abuso sexual vindo de sua própria família e acabam fugindo para as ruas. Outras vêm de Goiás e do Nordeste para a capital, em busca de trabalho, não conseguem e a família não sabe como ganham aquele "dinheirinho" que mandam todo mês. Outras, ainda, são incentivadas pela própria família a se prostituírem. Ao ganharem a rua, com o passar do tempo, perdem os vínculos com a casa e com a família, seduzidas pelos atrativos da rua. A liberdade, a falta de limites e obrigações, o cheiro da cola e do thinner, o cigarro de merla (pasta de coca), a maconha, o crack, o mesclado( cigarro de maconha e crack), a cocaína injetada, etc.
Depois das armas, das drogas e dos presídios, traficantes partiram para a expansão de seus negócios passando a controlar territórios também no asfalto para explorar a prostituição de menores.De acordo com reportagem publicada na edição deste domingo do jornal O GLOBO, pagando propina a grupos de policiais corruptos e associados a uma rede de aliciadores espalhados pela cidade, os bandidos já dominam a prostituição envolvendo adolescentes em nove bairros da cidade, das zonas Sul e Norte.Na relação de pontos de prostituição estão algumas das mais movimentadas avenidas da cidade, como a Atlântica, em Copacabana, cartão-postal do Rio e do país no exterior.Relatos de menores explorados sexualmente (meninos e meninas) ouvidos pelo GLOBO - alguns deles de 15 anos - revelam que são obrigados a pagar diariamente até R$ 50 aos aliciadores, e cumprir uma jornada que pode representar até seis programas por noite em hotéis espalhados pela cidade, no interior de carros e até mesmo em calçadas de ruas sem iluminação pública.Tudo controlado por traficantes de drogas de uma favela do Rio, que recebem percentual do lucro em troca de segurança armada."
É chocante o depoimento de algumas dessas crianças:
A primeira pergunta que se faz: o que leva uma criança a se prostituir ou ser prostituída?
Em primeiríssimo lugar a miséria. Em todos os sentidos. Ao perguntarmos, a resposta poderia ser dada em coro: por dinheiro. Dinheiro para comprar comida, sim, mas principalmente para comprar drogas. Logo que chegam às ruas, as meninas experimentam as drogas, muitas vezes oferecida pela "turma". Viciadas, elas roubam e se prostituem para comprar mais e, se não tiver, roubam e podem até matar. Na maioria das vezes tem sempre uma cafetina ou um cafetão por trás delas. Eles descobrem um ponto e começam a agenciar, muitas vezes trazem as meninas de longe ou das cidades satélites. Eles administram o negócio, mantêm as meninas dependentes e as protegem ao mesmo tempo.
Muitas delas andam em bandos e dormem nas ruas. Arredias, ariscas, desconfiadas, agressivas. Se chegarmos um pouco mais perto, veremos uma outra realidade. Uma carência que não cabe no corpinho franzino de algumas delas e uma total falta de compreensão do peso real do que fazem. Sem a mínima maturidade sexual ou emocional, elas não têm capacidade para avaliar e muito menos optar se realmente querem ser prostitutas.
Mas nada é certo ou exato. Não podemos homogeneizar essas crianças e traçar um perfil ou montar um quadro com características rígidas. Após o contato com várias meninas, pudemos constatar que muitas delas fazem parte de uma segunda geração de pessoas que já viviam na rua, ou seja, filhos de filhos da rua. Por aí já podemos entender que o problema é bem anterior e mais profundo do que podemos imaginar.
A desestrutura da família é um dos únicos fatores constantes. Muitas dessas meninas já sofreram algum tipo de violência ou abuso sexual vindo de sua própria família e acabam fugindo para as ruas. Outras vêm de Goiás e do Nordeste para a capital, em busca de trabalho, não conseguem e a família não sabe como ganham aquele "dinheirinho" que mandam todo mês. Outras, ainda, são incentivadas pela própria família a se prostituírem. Ao ganharem a rua, com o passar do tempo, perdem os vínculos com a casa e com a família, seduzidas pelos atrativos da rua. A liberdade, a falta de limites e obrigações, o cheiro da cola e do thinner, o cigarro de merla (pasta de coca), a maconha, o crack, o mesclado( cigarro de maconha e crack), a cocaína injetada, etc.
Depois das armas, das drogas e dos presídios, traficantes partiram para a expansão de seus negócios passando a controlar territórios também no asfalto para explorar a prostituição de menores.De acordo com reportagem publicada na edição deste domingo do jornal O GLOBO, pagando propina a grupos de policiais corruptos e associados a uma rede de aliciadores espalhados pela cidade, os bandidos já dominam a prostituição envolvendo adolescentes em nove bairros da cidade, das zonas Sul e Norte.Na relação de pontos de prostituição estão algumas das mais movimentadas avenidas da cidade, como a Atlântica, em Copacabana, cartão-postal do Rio e do país no exterior.Relatos de menores explorados sexualmente (meninos e meninas) ouvidos pelo GLOBO - alguns deles de 15 anos - revelam que são obrigados a pagar diariamente até R$ 50 aos aliciadores, e cumprir uma jornada que pode representar até seis programas por noite em hotéis espalhados pela cidade, no interior de carros e até mesmo em calçadas de ruas sem iluminação pública.Tudo controlado por traficantes de drogas de uma favela do Rio, que recebem percentual do lucro em troca de segurança armada."
É chocante o depoimento de algumas dessas crianças:
Depoimento 1-
"Fugi de casa, aos 10 anos, não aguentava mais ter que aceitar os carinhos do meu padrasto. Minha mãe sabia o que ele fazia comigo todos os dias no banheiro quando chegava do serviço. Mas, ele trazia droga pra ela, então ela falava: Fia, vai tomar banho com seu pai! Lá, ele fazia de tudo comigo, tinha dia que colocava atrás e doía muito. Prefiro ficar na rua, aqui os homens me pagam e se eu for boazinha nem me batem." ( Andréia *, 14 anos)
"Fugi de casa, aos 10 anos, não aguentava mais ter que aceitar os carinhos do meu padrasto. Minha mãe sabia o que ele fazia comigo todos os dias no banheiro quando chegava do serviço. Mas, ele trazia droga pra ela, então ela falava: Fia, vai tomar banho com seu pai! Lá, ele fazia de tudo comigo, tinha dia que colocava atrás e doía muito. Prefiro ficar na rua, aqui os homens me pagam e se eu for boazinha nem me batem." ( Andréia *, 14 anos)
Depoimento 2-
" Conheci na praia uma moça que me ofereceu um emprego de babá. Falei com minha mãe e fui morar com ela. Eu tinha 13 anos. O marido dela, chegava mais cedo do trabalho e começava a mexer comigo, dizia que se eu não deixasse ia contar pra mulher dele e pra minha mãe. Eu deixava por que ficava com medo. Um dia, descobri que estava grávida, ele me mandou fugir, senão matava minha mãe. Aí, vim pra rua e não tive coragem de voltar pra casa. Meu filho nasceu e dei ele pra uma mulher na Lapa." ( Suzy*, 16 anos)
" Conheci na praia uma moça que me ofereceu um emprego de babá. Falei com minha mãe e fui morar com ela. Eu tinha 13 anos. O marido dela, chegava mais cedo do trabalho e começava a mexer comigo, dizia que se eu não deixasse ia contar pra mulher dele e pra minha mãe. Eu deixava por que ficava com medo. Um dia, descobri que estava grávida, ele me mandou fugir, senão matava minha mãe. Aí, vim pra rua e não tive coragem de voltar pra casa. Meu filho nasceu e dei ele pra uma mulher na Lapa." ( Suzy*, 16 anos)
Eu fico imaginando a angústia de uma mãe que não sabe o paradeiro de sua filha e muito menos ainda sabe que ela está sendo usada na prostituição. Fico igualmente imaginando o que passa pela cabeça de uma mãe que troca sua filha por uma pouco mais de drogas... É muito dificil entender a situação dessas meninas, dessas mães e dessas famílias, existem depoimentos que chocam por que elas afirmam gostar dessa vida, do dinheiro fácil e até mesmo dos clientes que as procuram.
Essa discussão deve estar presente em todos so segmentos da nossa sociedade. temos que conscientizar nossas crianças que se são vitimas de abuso sexual a culpa não é delas e sim dos adultos que as torturam e humilham de forma despudorada.
Postado por Xênia da Matta
Nenhum comentário:
Postar um comentário