Um ano e 9 meses sem fumar
Depois que eu parei de fumar, o mais importante não aconteceu nos órgãos do corpo, aconteceu na minha cabeça. Agora que eu desliguei os mecanismos do vício, um ano e 9 meses depois, posso observar de perto como as suas engrenagens (agora enferrujadas) funcionavam. Entender como parcerias entre as células viciadas, o corpo e o cérebro, desenvolveram estratégias sutis e inteligentes para me fazer fumar cada vez mais. Veja, eu não participava daquelas reuniões estratégicas “faziam pelas minhas costas”– como diria um paranóico.
A emoção é um dos principais gatilhos para romantizar o ato de fumar.
Fumar, com o tempo, vira um estilo de vida entrelaçado com circunstâncias emocionais como um episódio de melancolia, de alegria, como celebrações importantes, hapy hour, janta, churrasco, jogo de futebol, festas, sexo (antes e depois) e, até mesmo, com fantasias, como uma vivência imaginária romântica, por exemplo. Você está só, ouvindo uma música, basta um gole no vinho e lembrar de algo que te tocou profundamente, feito. A mão procura a carteira, pega um cigarro, procura o isqueiro, acende o cigarro e, na maioria das vezes, você não viu, ou não pensou em cumprir estas etapas. Quando se dá conta fumou um cigarro inteiro e não lembra como. Por isso eu disse “a mão pega um cigarro”. E veja que, neste parágrafo, ao descrever as possíveis motivações para sempre acender outro cigarro, eu acabei por descrever a vida, verdade? Ele, o cigarro, entrou em todos os seus espaços, sejam íntimos, profissionais ou sociais, tudo. Ele se apossou do seu coração, da sua alma e do seu corpo. No fundo, você sabe que quem manda é ele, o cigarro. Diante da simples menção de parar de fumar, imediatamente ele te faz pegar a carteira rapidamente e você passivamente faz o que ele manda, ou seja, fuma mais um, e outro, e outro.
Por isso, parar de fumar é muito difícil. Agora acredito que gente humilde e desinformada não tem a menor chance de parar, somente em caso de morte súbita ou doença grave.
Engraçado, eu não parei por medo de doenças. Já vou terminar este texto, leia só mais este finzinho. Eu parei porque me dei conta que, se eu não podia controlar a mim mesmo, então não poderia ter controle sobre mais nada na vida. Isso é de uma simplicidade brutal, mas é pura verdade. A minha estratégia foi um pouco esquisita, eu sei. Comecei a imaginar que a vontade de fumar era um comando que vinha de alguma caverna obscura de dentro de mim. A vontade se manifestava e eu dizia: não, quem manda aqui sou eu. Com o tempo, de tanto ouvir o bordão, a vontade de fumar foi perdendo a vontade, até desaparecer para sempre. Sei que não vai voltar nunca mais, não por causa deste joguinho de autoridade que fiz comigo mesmo. O cigarro nunca mais vai se aproximar dos meus lábios, porque não está mais entrelaçado com a minha vida. Só isso. Para mim, agora ele está entrelaçado com sujeira, veneno para ratos, com angústia, com problemas mentais, fracassos, doenças e morte. Quando acabou a visão romântica criada pelo vício, surgiu a verdade encardida. Eu sempre soube que, se voltasse a escrever sobre o cigarro, correria o risco de parecer um desses ex-fumantes chatos, de plantão. Não importa, os fumantes me comovem. Eu sei o que eles sentem, conheço a dor e o prazer. Claro que tem prazer, o problema é o preço que se paga todos os dias. Se o meu depoimento fizer só um fumante parar para pensar no assunto, está de bom tamanho. Um amigo que também parou me deu o melhor e mais sincero depoimento de ex-fumante. Fumar dá prazer –, disse ele. – Não fumar dá mais prazer ainda
fonte: www.coletiva.net
A emoção é um dos principais gatilhos para romantizar o ato de fumar.
Fumar, com o tempo, vira um estilo de vida entrelaçado com circunstâncias emocionais como um episódio de melancolia, de alegria, como celebrações importantes, hapy hour, janta, churrasco, jogo de futebol, festas, sexo (antes e depois) e, até mesmo, com fantasias, como uma vivência imaginária romântica, por exemplo. Você está só, ouvindo uma música, basta um gole no vinho e lembrar de algo que te tocou profundamente, feito. A mão procura a carteira, pega um cigarro, procura o isqueiro, acende o cigarro e, na maioria das vezes, você não viu, ou não pensou em cumprir estas etapas. Quando se dá conta fumou um cigarro inteiro e não lembra como. Por isso eu disse “a mão pega um cigarro”. E veja que, neste parágrafo, ao descrever as possíveis motivações para sempre acender outro cigarro, eu acabei por descrever a vida, verdade? Ele, o cigarro, entrou em todos os seus espaços, sejam íntimos, profissionais ou sociais, tudo. Ele se apossou do seu coração, da sua alma e do seu corpo. No fundo, você sabe que quem manda é ele, o cigarro. Diante da simples menção de parar de fumar, imediatamente ele te faz pegar a carteira rapidamente e você passivamente faz o que ele manda, ou seja, fuma mais um, e outro, e outro.
Por isso, parar de fumar é muito difícil. Agora acredito que gente humilde e desinformada não tem a menor chance de parar, somente em caso de morte súbita ou doença grave.
Engraçado, eu não parei por medo de doenças. Já vou terminar este texto, leia só mais este finzinho. Eu parei porque me dei conta que, se eu não podia controlar a mim mesmo, então não poderia ter controle sobre mais nada na vida. Isso é de uma simplicidade brutal, mas é pura verdade. A minha estratégia foi um pouco esquisita, eu sei. Comecei a imaginar que a vontade de fumar era um comando que vinha de alguma caverna obscura de dentro de mim. A vontade se manifestava e eu dizia: não, quem manda aqui sou eu. Com o tempo, de tanto ouvir o bordão, a vontade de fumar foi perdendo a vontade, até desaparecer para sempre. Sei que não vai voltar nunca mais, não por causa deste joguinho de autoridade que fiz comigo mesmo. O cigarro nunca mais vai se aproximar dos meus lábios, porque não está mais entrelaçado com a minha vida. Só isso. Para mim, agora ele está entrelaçado com sujeira, veneno para ratos, com angústia, com problemas mentais, fracassos, doenças e morte. Quando acabou a visão romântica criada pelo vício, surgiu a verdade encardida. Eu sempre soube que, se voltasse a escrever sobre o cigarro, correria o risco de parecer um desses ex-fumantes chatos, de plantão. Não importa, os fumantes me comovem. Eu sei o que eles sentem, conheço a dor e o prazer. Claro que tem prazer, o problema é o preço que se paga todos os dias. Se o meu depoimento fizer só um fumante parar para pensar no assunto, está de bom tamanho. Um amigo que também parou me deu o melhor e mais sincero depoimento de ex-fumante. Fumar dá prazer –, disse ele. – Não fumar dá mais prazer ainda
fonte: www.coletiva.net
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