NOSSAS EXPERIÊNCIAS

28 de dez. de 2011

O cruel negócio da prostituição

Por Maria Encarna Sanahuja YII (Trechos do artigo publicado em Poder e Liberdade)

   O mito masculino mantém que a prostituta se vende em um ato livre de disposição do seu corpo, esquecendo que estas mulheres foram impulsionadas à prostituição devido a elementos de ordem social: miséria, desemprego e deficiências do meio familiar: pobreza; por serem abandonadas pelo marido; por serem expulsas do lar por causa de gravidez indesejada; por terem filhos ilegítimos, etc. Ainda que os nossos reformistas não queiram admitir, a inferioridade social e econômica da mulher é a única responsável pela prostituição. Também cabe destacar que o desemprego está associado indiscutivelmente à venda do corpo. As mulheres, devido às características sexuais da sociedade patriarcal, têm o recurso do comércio do seu sexo, em lugar do roubo ou de golpes. Esta é uma razão da menor delinqüência entre as mulheres. Mas a prostituição é um negócio de homens. O Estado e a classe dominante – o homem –assentam o seu poder e os seus recursos econômicos sobre a exploração das mulheres. A prostituição, assim como a tortura domiciliar, estupro e o femicídio, constituem um claro expoente do machismo.Nem vocação nem liberdadeA ideologia machista, que afirma que a prostituta vende o seu corpo porque gosta, que se trata de um trabalho vocacional, refletiu em algum setor das prostitutas. À prostituta não causa prazer realizar serviços sexuais que só satisfazem ao homem. Vende seu corpo para poder sobreviver ou obter mais dinheiro. Ignora-se, entretanto, que a maioria das prostitutas não são livres. Nem as pobres, nem as ricas. Tanto as da rua ou as dos bares e clubes como as de luxo que exercem outro tipo de prostituição clandestina, de convite, de agenda, estão controladas por cafetões, que são os principais beneficiários do negócio. As máfias impedem que as mulheres públicas obtenham um benefício individual, pois trata-se de um negócio para homens e não para as mulheres. A ignorância frente aos fatos reais faz com que ninguém se volte contra a figura do cliente nem do cafetão. Onde se viu que para erradicar uma injustiça se ataque os explorados e não os exploradores? Quem compra é quem tem o poder.Sobre os clientes A clientela que procura as prostitutas é heterogenia, entretanto, a classe social a que pertence e suas condições econômicas não mantém diferenças substanciais na forma como se relacionam com a prostituição. A prostituição é o símbolo mais tangível da ditadura heterossexual da nossa sociedade: o macho impõem o seu desejo em troca de dinheiro. A superioridade econômica lhe permite assegurar os serviços de prostitutas. Foi dito que a prostituição é o ofício mais antigo do mundo. Isto se encaixa perfeitamente em nossa tese fundamental, a saber, que a mulher é a primeira classe explorada e oprimida pelo homem. Logo, tem seu sexo explorado individualmente ou de forma pública, quando o homem descobre que o comércio do sexo pode lhe beneficiar. Entre os povos primitivos atuais a prostituição é um fenômeno corrente. No nosso adiantado e progressista mundo capitalista, gigolôs e cafetões, agrupados em clãs e máfias supra-nacionais, enchem os bolsos com a exploração de mulheres escravizadas, sendo impossível para elas saírem do alucinante mundo da prostituição. O proxenetismo não só está representado pelos gigolôs que vigiam suas mulheres, mas também por todos aqueles que vivem, enriquecem, se aproveitam e engordam às custas das prostitutas. Homens que vendem, compram, espancam, maltratam e até assassinam estas mulheres.
Só a valentia de algumas, fartas de mau tratos e humilhações, permite que conheçamos a extorsão a que são submetidas.Soluções para a prostituição A loita organizada das prostitutas nascida na França está dividida em dois ramos fundamentais: a primeira, o setor com menos consciência de classe, mais reacionário, e que tem o visto bo dos proxenetas, defende o trabalho e quer exerce-lo mediante a legalização. As mulheres reclamam a liberdade para vender o seu corpo e a prática da prostituição por vocação. A outra ala do movimento, com a qual nos sentimos mais próximas, proclamam que a prostituição é degradante e vil, e apresenta um plano de medidas governamentais para reinsertar as prostitutas. Muitas mulheres que estão sem trabalho, sem meios econômicos, são vítimas das máfias e estão obrigadas a prostituírem-se. Estamos mais próximas deste setor porque as mulheres do primeiro ainda não descobriram que devem ser donas de seu corpo. Carmem Alcalde considera que “estas mulheres não entenderam que a sua única alternativa é exigir o direito à cultura, à informação e ao trabalho, por mais explorado e alienado que seja. Assim como os escravos preferiram mudar sua situação de servos corporais pelo trabalho nas minas ou nas fábricas. Assim como hoje seguem preferindo a venda da sua força de trabalho no lugar de vender a sua pessoa a um amo, as mulheres, se real-mente querem levar sua revolução sexual adiante, deveriam começar por gritar que são seres humanos com a mesma capacidade que os homens para integrar-se ao mundo do trabalho, político, cultural e criativo, monopolizado pela outra metade da população mundial”.O atroz é que, com a legalização, as máfias, mais ou menos distinguidas, que controlam a prostituição atuarão com maior impunidade. A legalização, que aceita o comércio do corpo da mulher e as relações que com ele estabelece o cliente e a prostituta, não fariam mais do que favorecer este negócio que nutre capitalistas, fascistas e inclusive democratas. Em uma palavra, o movimento feminista não pode tolerar a legalização da escravidão sexual. Somos partidárias, ainda sabendo que esta solução atenta contra muitos interesses, de adotar medidas adequadas para abolir a prostituição, com a criação de escolas de formação e lugares de trabalho para as prostitutas, penas elevadas para todo tipo de cafetão e multas para os clientes. É necessária uma transformação profunda da sociedade e, sobretudo, à tomada de consciência por parte das mulheres para sermos donas do nossos corpos e contrárias a qualquer tipo de exploração, incluída a sexual. Com a revolução feminista emergerá uma sociedade onde a prostituição não terá razão de ser.

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