Lídia Azevedo e Ramiro Costa - Expresso
"Sinto saudade de casa. Se não fosse pela minha filha,
não seria garota de programa. Mas pretendo ficar aqui, eu gosto". A
história de P., de 28 anos, é a mesma de muitas mulheres que entram na
prostituição: são mães jovens, sem estudo, o pai da criança não ajuda e elas
precisam de dinheiro rápido. No primeiro dia de volta à casa de prostituição,
após ficar quatro meses com a filha doente, P. disse que trabalha das 14h às
21h30m todo dia, e que o maridão sabe da profissão
— Ele tenta aceitar, porque me conheceu assim — explicou
ela, que garante não perder o apetite sexual em casa: — Com meu marido é
diferente. Gosto dele, aqui eu encaro como trabalho mesmo.
Já para F., de 30 anos, a vida é mais complicada. Mãe de
três filhos e cheia de dívidas, ela diz que não teve escolha a não ser vender o
próprio corpo para sustentar a família, que não tem ideia do que ela faz.
— Meus amigos também não sabem, muito menos meu namorado. No
início, ele sabia e aceitava. Agora falo que trabalho em casa de família —
explicou F., que pretende sair da prostituição em seis meses: — Não saio daqui,
onde ganho R$ 600 por semana, pra ganhar um salário mínimo. Mas não fico nessa
vida para sempre. Vou juntar uma grana e comprar roupa pra revender.
Gerente da casa, X. conhece bem o negócio que ajuda a
administrar. Depois do término de um relacionamento, ela ficou sem nada e caiu
na vida.
— Tinha 28 anos quando procurei uma casa no Recreio, e o
dono falou para eu ficar no salão e ver se me acostumava. Chorei, mas mesmo
assim, nesse primeiro dia, em 6 ou 7 horas, fiz 19 programas.
O número assusta, mas nem sempre rola o que você pensa entre
quatro paredes.
— As pessoas acham que a gente transa o dia todo, mas de
seis programas que faço, em dois eu transo. Muitos chegam bêbados, querendo só conversar
ou beber — explicou F.
X. conta que a maioria das meninas que trabalha com ela é
casada, e que já viu muito homem entrando no salão (lugar onde elas recebem os
clientes) atrás da mulher. Já o contrário, é mais raro.
— Uma vez, saindo do trabalho, uma mulher mostrou a foto do
marido e perguntou se eu conhecia. Disse que não, e se conhecesse, não falaria.
A. é uma dessas que foi pega com a boca na botija. O marido
entrou com os amigos na casa onde ela trabalhava. E ela deu de cara com ele.
— Ele olhou para mim, disse que não acreditava e chorou. Mas
estamos juntos até hoje, são três anos. Todo mundo na minha casa sabe, até meus
filhos, e tratam tudo com naturalidade — contou A., que começou aos 14 anos, na
Vila Mimosa, e hoje, com 30, já rodou vários pontos do Rio.
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