Depoimentos.
"A ficha caiu quando sofri um acidente de carro. Estava
virada, sem dormir, fazia quatro dias. Peguei o carro para ir comprar crack,
mas não andei nem 100 metros e sofri um apagão. Dormi ao volante. Fiquei
cinqüenta dias com os dois braços enfaixados e o rosto cheio de feridas por
causa dos estilhaços do vidro. Já havia sido internada algumas vezes, mas
sempre soube que voltaria à droga. Fazia meus pais pagar minhas dívidas dizendo
que, do contrário, seria morta pelos traficantes. Em troca, eu ficava um tempo
na clínica de recuperação. De uma delas, fugi pulando o portão. Com o acidente,
percebi que tinha de me livrar daquilo. Agora estudo, luto para recuperar a
guarda dos meus filhos e quero montar um grupo de apoio só para mulheres
dependentes. Elas precisam perder o medo de procurar ajuda."
M., 31 anos, estudante de psicologia de São Paulo, livre do crack desde 2005
M., 31 anos, estudante de psicologia de São Paulo, livre do crack desde 2005
O salário virou fumaça
Ainda hoje tenho pesadelos nos quais estou fumando crack. Acordo
assustado e com raiva de mim mesmo. Não quero passar por aquilo de novo. Na
fase pior, gastava todo o meu salário com a droga. Eu, que sempre ganhei tudo
do bom e do melhor de meus pais, cheguei a roubar as coisas de casa para fumar
crack. Vendi até Tupperware em troca de pedras. Quando meu pai disse que não me
queria mais em casa, decidi pedir ajuda. Fiquei mais de um ano numa clínica de
recuperação. Nesse tempo, percebi que o meu maior vício não eram as drogas, e
sim pensar só em mim. Para me livrar do crack, tive de virar outra pessoa.
Hoje, penso que o meu crescimento pessoal só é relevante se eu ajudar os outros
a crescer. Consegui, assim, voltar para a casa dos meus pais, para o meu
trabalho e estou namorando firme. Aos poucos, reponho os aparelhos eletrônicos
que tirei de casa."
Fabio Bakun Nóbrega de Albuquerque, representante comercial do Recife, 29 anos, em abstinência desde 2006
Fabio Bakun Nóbrega de Albuquerque, representante comercial do Recife, 29 anos, em abstinência desde 2006
Choro e desespero
Egberto Nogueira
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C., dentista de São Paulo, 25 anos, livre da droga há três
Egberto Nogueira
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"Meu sonho sempre foi trabalhar na empresa do meu pai, uma
metalúrgica no interior de São Paulo que ele fundou há quarenta anos. Mas,
quando cursava a faculdade de administração, comecei a cheirar muita cocaína.
Ao conhecer o crack, foi amor à primeira vista. Quando minha família começou a
controlar meu dinheiro, evitando que eu comprasse mais cocaína, decidi partir
para o crack. No início, tinha medo de ficar como os mendigos que aparecem na
televisão. Misturava crack com maconha pensando que assim o cigarro ficaria
mais fraco. Um mês depois, já estava na droga pura. Como meu pai tinha crédito
na cidade e todos me conheciam, conseguia dinheiro com facilidade. Quando perdi
o crédito, me bateu um desespero e aceitei ser internado. Desde então, venho
tentando largar a droga, mas com recaídas. A última foi há seis meses.
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