NOSSAS EXPERIÊNCIAS

17 de jan. de 2012

Prostituição - Falta Orientação Sobre Aids

Estudo da UnB mostra que prostitutas se protegem contra doenças com os clientes. Mas esquecem disso na hora de transar com os maridos. Governo e entidades discutem hoje resultados da pesquisa
Maria Vitória
Da equipe do Correio
Perfil

45,5% das prostitutas brasileiras têm 20 a 29 anos
43,9% trabalham somente na rua. Entre as que não recebem orientação sobre Aids, 60,3% tiveram relações usando preservativo masculino em todos os programas nos últimos seis meses, mas somente 15,8% usaram camisinhas com os seus companheiros fixos

Elas são jovens, solteiras e trabalham geralmente na rua, bares e boates para receber, em média, de um a quatro salários mínimos por mês. São mulheres que, ao vender sexo, cercam-se de cuidados para evitar a Aids. Mas que dispensam o uso do preservativo masculino com seus namorados ou maridos. Esse é o perfil das prostitutas brasileiras, resultado de pesquisa inédita encomendada pelo Ministério da Saúde e que será apresentada hoje na abertura do seminário Prostituição e Aids. No encontro, profissionais do sexo de todo o país e técnicos das coordenações estaduais e municipais de DST/Aids vão traçar novas estratégias de prevenção para pessoas que fazem do sexo seu trabalho.
De outubro de 2000 a fevereiro de 2001, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) ,com o apoio de nove Organizações Não-Governamentais (ONGs), percorreram ruas, boates, bares, hotéis e motéis de cidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Maranhão, Paraíba e Sergipe. Segundo a psicóloga Kátia Guimarães, coordenadora da pesquisa, o Distrito Federal não entrou no estudo por não possuir associação que trabalha com prostituição. Apenas o Grupo de Apoio e Prevenção da Aids (Gapa) faz trabalho de orientação da Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.
A pesquisa analisou os riscos das práticas sexuais dos profissionais e seus clientes, a auto-estima das pessoas que vivem do sexo pago, o acesso aos serviços públicos de saúde, o preconceito e as mulheres infectadas pelo HIV, sífilis e hepatites B e C.
A maioria tem orientação sobre essas doenças. O que não quer dizer que se proteja direito, principalmente com seus parceiros fixos. São mulheres como a loura Sandra Spíndola, 29 anos, prostituta desde os 13. Todos os dias ela sai de casa, em Luziânia, para buscar clientes nos viadutos da S2, a pista que passa por trás do Conic. ‘‘Sempre exijo camisinha dos clientes’’, diz a mulher que, de short branco e botas pretas até o joelho, se agarra a um casaco de peles falso para se proteger do frio da noite.

Testes
O problema é que Sandra nem sempre pedia que seu último namorado usasse preservativo nas relações sexuais. É essa informação que preocupa os técnicos da Coordenação de DST e Aids do Ministério da Saúde. Segundo a pesquisa, 73,8% das prostitutas orientadas por ONGs usam camisinha nas relações sexuais por dinheiro, e apenas 23,9% usam quando estão com companheiros fixos. Os números caem para 15,8% quando elas não recebem nenhum tipo de orientação. Para avaliar o grau de risco desse tipo de atitude, as três mil prostitutas pesquisadas fizeram testes de HIV e vírus da Hepatite B e C. Os resultados serão divulgados no último dia do encontro, na sexta-feira.
O Ministério da Saúde aproveitará o seminário para lançar hoje à noite campanha nacional de prevenção com ênfase na organização e auto-estima das prostitutas. Além do spot para rádio, gravado pelo cantor Reginaldo Rossi, a campanha tem folhetos com informações sobre práticas seguras do sexo e as principais doenças que podem ser transmitidas nas relações sem o uso do preservativo.

SERVIÇO
Seminário Prostituição e Aids
Data: 6 a 8 de março
Local: Hotel Carlton
Aberto a profissionais do sexo
Histórias na noite
PRECAUÇÃO


‘‘Tomo todos os cuidados para evitar o contágio com o HIV e outras doenças sexuais. Sempre exijo o uso de camisinha e periodicamente faço exames de rotina. Os últimos foram em fevereiro. Apenas uma vez tive problemas com um cliente que se recusou a usar preservativo. Ele queria fazer sexo anal e eu disse não. Ficou muito nervoso, quis me agredir, mas eu fugi com a ajuda dos funcionários do motel.’’

Adriana, 24 anos, solteira
Completou o ensino médio, é mãe de um garoto de cinco anos, mora no Núcleo Bandeirantes e trabalha há quatro anos em boates do Plano Piloto

DESEMPREGO

‘‘Hoje é o meu primeiro dia. Desisti de ficar desempregada e uma prima me aconselhou a trabalhar como garota de programa. Sei como me prevenir contra a Aids, pretendo só transar de camisinha, mas tenho muito medo de pegar a doença.’’

Mônica, 18 anos, solteira
Cursa o 3º ano do 2º grau, mora no Plano Piloto

EXAMES

‘‘Preciso me cuidar com a Aids, sífilis e outras doenças. Tenho um filho para criar. Já fiz cinco testes para detectar o HIV. Todos deram negativo. O último foi em julho, quando doei sangue para uma pessoa amiga.’’

Juliana, 29 anos, separada
Não completou o ensino médio, tem um filho de oito anos, mora em Planaltina e trabalha há cinco anos nas ruas do Plano Piloto
 
MAQUIAGEM

‘‘Trabalhei durante quatro anos nas ruas e boates do Plano Piloto. Uma vez o cliente se recusou a usar camisinha e me estuprou. Há seis meses fiquei grávida e deixei de ‘‘batalhar’’ na rua. Venho ao Conic vender produtos e maquiagem e perfumes às minhas amigas e antigas companheiras. Preciso ganhar o dinheiro da comida, mas tenho medo que o meu companheiro descubra. Ele não quer que eu continue nessa vida, mas não consigo emprego.’’

Carol, 24 anos, tem parceiro fixo
Não completou o ensino fundamental, é mãe de um menino de oito anos e está grávida de seis meses. Mora em Valparaíso

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