NOSSAS EXPERIÊNCIAS

25 de jan. de 2012

Fiquei grávida do meu pai aos 16 anos", diz adolescente.



No começo, aos oito anos de idade, Ana (nome fictício), 18, não compreendia direito aquelas "coisas estranhas" que seu pai costumava fazer com seu corpo de criança. Com o passar dos anos e com as repetições incessantes do mesmo ritual, Ana, já adolescente, descobriu que aquilo tinha nome: abuso sexual.
Mesmo assim, sentia-se vítima e culpada ao mesmo tempo. Tinha vergonha para desabafar com alguém. Além disso, sua fama de rebelde havia destituído de crédito as suas palavras.Depois de oito anos de abusos, a gota d'água: Ana engravidou do pai.

LEIA,A  SEGUIR, TRECHOS DE SUA ENTREVISTA AO FOLHATEEN.

Folha - Como o abuso começou?

Ana - Minha mãe sempre viajou muito. E os abusos começaram dentro de casa, com meu pai, quando eu tinha oito anos. Da primeira vez não me lembro bem, mas estava saindo do banho. Meu pai, que tinha bebido um pouco, quis fazer coisas estranhas comigo. Hoje, fico tentando lembrar o que aconteceu, juntar as peças do quebra-cabeça... Mas é difícil. Meu pai tirou a minha virgindade e abusou de mim até meus 16 anos. Acho que não tive infância nem juventude.

Folha - Você sabia que aquilo era abuso?

Ana - Não entendia direito, era muito criança. E minha mãe nunca conversou comigo sobre sexo, nunca explicou nada. Eu achava aquilo estranho.

Folha - Como era sua relação com seu pai fora o abuso?

Ana - Como tinha interesse que eu não contasse nada a ninguém, ele me dava muitas coisas que ele não comprava para nenhum dos meus outros oito irmãos.

Folha - E você contou para alguém?

Ana - Aos dez anos, contei para a minha mãe. Só que ela não acreditou. Disse que ele seria incapaz de fazer aquilo. Depois descobri que isso também tinha acontecido com minha irmã mais velha e que minha mãe tinha reagido da mesma forma. Aí, toda vez que ela e meu pai brigavam, ela dizia que eu era a culpada.

Folha - Você conseguia reagir quando seu pai cometia o abuso?

Ana - Quando era criança, ficava assustada e não reagia. Quando fiz 14 anos, comecei a dizer que não queria, mas ele forçava, segurava as minhas mãos e tapava a minha boca para que eu não gritasse.

Folha - O que mudou em sua maneira de pensar e de se comportar depois do abuso?

Ana - Fiquei revoltada. Especialmente contra os meus pais. Fiquei agressiva. Não fazia o que eles me pediam. Era malcriada no colégio, tinha notas baixas. Tudo o que eu fazia era chorar e me revoltar.

Folha - E em relação a seu corpo?

Ana - Passei a não gostar de me olhar no espelho. Era bonita, tinha o corpo formado e juro que queria ser uma bruxa. Minha beleza estragava minha vida.

Folha - Seu pai chegou a ameaçar você?

Ana - As ameaças dele eram em relação à minha mãe, porque ele sabia que eu tinha medo dela, que ela me batia.

Folha - Você se sentia isolada?

Ana - Eu me perguntava por que aquilo acontecia só comigo. Eu me sentia diferente de todas as meninas. E ainda me sinto um pouco assim. Quando a gente é criança, a vida é bela. Depois é que a gente vê como o mundo é realmente.

Folha - O que a fez quebrar o silêncio?

Ana - Fiquei grávida do meu pai aos 16 anos e contei a uma vizinha. Fiquei muito confusa porque sempre quis ser mãe, mas me revoltaria contra aquela criança. O mundo parecia ter se virado mesmo contra mim. Contei para minha irmã do abuso e disse que estava grávida. Aí, a casa caiu. Começamos a ir atrás da Justiça e entrei no programa Aborto Legal.

Folha - Depois disso, você conseguiu se relacionar com algum garoto?

Ana - Desde o início da adolescência tinha aversão a garotos. Não queria nenhum tocando em mim. Achei que nunca fosse namorar. Tinha raiva de homem! Ainda mais porque, depois do meu pai, durante o tratamento, meu cunhado fez a mesma coisa comigo quando eu estava morando na casa de minha irmã.

Folha - Você se sente recuperada?

Ana - Perto de como era, hoje sou maravilhosa. E eu sempre digo aos meus amigos que eles estão se revoltando por muito pouco. Para melhorar, tem de ter força e tem de deixar as pessoas ajudarem. Se eu não viesse ao Cerca e não tivesse deixado que eles me ajudassem, acho que não teria conseguido superar isso sozinha.

 Porque é uma barra pesada mesmo. Hoje me sinto uma vitoriosa. Comecei a ir bem na escola, fiz vários cursos, fiz amigos e arranjei um emprego e um namorado. Consegui dar uma virada na minha vida

Folha de S.Paulo.

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