‘Depois de sete anos de abuso, consegui escapar do assédio do
meu pai
’Márcia Longo, 42 anos, auxiliar de escritório Quando eu tinha 3 anos, minha mãe teve depressão profunda. Meu pai, que era eletricista, tomou as rédeas da casa e passou a cuidar de mim e do meu irmão de 1 ano. Soube muitos anos depois que, nessa época, minha mãe o flagrou fazendo sexo oral e mexendo nos meus genitais, enquanto me dava banho. Ela ameaçou se separar. Mas, sem apoio da família e sem forças, resolveu deixar as coisas como estavam, pois precisava dele para nos sustentar. Com 4 anos, meu pai tirou minha virgindade. Lembro de que algo estranho aconteceu, de que fiquei machucada, mas, como eu era muito pequena, as memórias se apagaram. O assédio continuou até os meus 10 anos. Ele só parou quando escapei de mais um de seus ataques e ameacei contar para minha mãe. Mas não foi o fim da tortura. Por mais um ano, meu irmão mais velho me bolinou. Só depois de adulta, soube que minha mãe estava consciente de tudo. Relembrar é doloroso, mas é o único caminho para curar o trauma. Não posso mudar o passado, mas transformei o presente. Me casei duas vezes, tenho dois filhos lindos e perdoei minha mãe por sua omissão. Tenho um site [www.eumelembro2003.hpg.com.br] e luto para que essa barbaridade não se perpetue e para que as leis relativas ao abuso sexual protejam, de fato, quem precisa delas.’
‘Depois que as lembranças vieram à tona, tive que vencer o pânico e a depressão’
Geisa Paulin-Curlee, 33 anos, veterinária Venho de uma família de trabalhadores rurais do Paraná e fui uma criança muito tímida e solitária. O primeiro abuso foi aos 5 anos: acordei sentindo meu irmão, 8 anos mais velho, mexendo nos meus genitais. Meu tio também me bolinava. Eu não reagia, pois não tinha capacidade para discernir. Com o tempo, passei a sentir culpa e vergonha. Foi assim até depois de adulta. Sempre, a cada toque, sentia meu corpo paralisado, era incapaz de me mover. Depois, eu entrava em um estado de confusão e desconforto emocional. Duas vezes, os abusos de ambos chegaram a relações sexuais, aos 21 anos e aos 25. Acho que um não sabia do outro. Meus pais nunca desconfiaram e nunca sofri ameaças para ficar calada, mas morria de medo que me castigassem e ignorava que aquilo era abuso sexual. Só em 2001 essa situação mudou, pois fui estudar nos Estados Unidos. Lá, pela primeira vez, tive um namoro estável e me casei. Fui fazer um seminário sobre crescimento pessoal e as lembranças do passado vieram à tona. Só então vi que eu tinha sido vítima de abuso. Procurei um psicólogo e enfrentei um longo processo de depressão profunda e crises de pânico. Escrevi cartas ao Conselho de Medicina do Paraná denunciando meu tio, que é médico, mas desconsideraram por falta de provas. Meu irmão foi preso, mas por outro motivo. Mesmo sabendo que nada aconteceu com quem me fez tanto mal, quero muito me curar. Sei que mereço ser feliz.’ ‘Senti nojo, ódio, repulsão, mas fiquei sem ação e ele continuou a me fazer carícias, me molestando de formas sedutoras’
Fonte: Revista Marie Claire
Fonte: Revista Marie Claire
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