NOSSAS EXPERIÊNCIAS

21 de dez. de 2011

                                          VICIADOS EM REMÉDIOS.


                                                                                       

A máquina de propaganda da indústria farmacêutica, a irresponsabilidade de muitos médicos e a ignorância dos usuários criaram um novo tipo de vício, tão perigoso quanto o das drogas ilegais: a farmacodependência

Um dia, sem querer, você abre uma das gavetas do seu filho adolescente e encontra um cigarro de maconha. A sensação é de decepção, medo, angústia, seguida de terrível constatação: "Meu filho é um drogado". Enquanto torce mentalmente para que ele não esteja viciado, você, sem perceber, se vê abrindo a gaveta de remédios para retirar o calmante que usa nos momentos de tensão, antevendo a inevitável e difícil conversa que precisará travar quando ele chegar. É nessa gaveta de medicamentos que você encontra o alívio para o corpo e a alma.São analgésicos para a dor, ansiolíticos para relaxar, antiinflamatórios e até mesmo comprimidos de anfetamina usados para conter o apetite que tantas vezes você não consegue controlar naturalmente.

Em meio ao nervosismo, você não se dá conta de que alguns desses remédios ingeridos diariamente podem causar mais danos e dependência que as substâncias que você conhece como "Drogas Ilícitas".
Esteja certo: se um químico fizesse uma análise fria das substâncias encontradas na sua gaveta e na do seu filho, o garoto não seria o único a precisar de uma conversa séria sobre o perigo de se amparar em muletas psicoativas.
"Do ponto de vista científico, não há diferença entre um dependente de cocaína e um viciado em remédios que contêm anfetamina", diz o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes (Proad), da Universidade Federal de São Paulo.
"Droga é droga, não importa se ela foi comprada num morro ou numa farmácia dentro de um shopping."

E o Brasil tem uma farmácia para cada 3 000 habitantes, mais que o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Há mais pontos de venda de medicamentos do que de pão – são 55 000 farmácias contra 50 000 padarias.
Drogas químicas podem ser compradas até por telefone e pela internet, com ou sem receita médica.

Mas, afinal, precisamos mesmo de tantos remédios?

Segundo a maioria dos especialistas, a resposta é não.
Apesar da saúde precária dos pobres, que mal conseguem ter acesso a alimentos básicos, e dos distúrbios orgânicos da classe média e dos ricos, resultado de um estilo de vida descomedido e estressante, o quinto lugar ocupado pelo Brasil em consumo de medicamentos reflete principalmente um problema grave que hoje é alvo de debate nos Países Desenvolvidos:
O uso abusivo de remédios e os interesses bilionários da indústria farmacêutica.

Numa sociedade que perdeu a noção de vida saudável, os medicamentos se tornaram a solução mágica para todas as complicações, inclusive aquelas de natureza essencialmente psicológica, relacionadas às pequenas frustrações do dia-a-dia.

                                                                                       

Uma inversão de valor cujas consequências começam a preocupar.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz, 30% das 80 000 mortes anuais por intoxicação no Brasil são causados pelo uso indevido de remédios.
A situação é ainda mais grave nos Estados Unidos, onde anualmente 1 milhão pessoas são intoxicadas por medicamentos.
As chamadas doenças iatrogênicas, aquelas provocadas por tratamentos médicos inadequados, compõem atualmente uma parcela ampla – e ainda não quantificada – dos atendimentos em hospitais e clínicas.
Tudo isso é quase um escândalo quando se considera a advertência de um especialista na área, o professor Daniel Singulem, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

"A natureza resolve sozinha 90% dos problemas de saúde do ser humano",
diz Daniel. "Em geral, pede-se aos médicos apenas que não atrapalhem".

Por: Jomar Morais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Tradutor