Uma história real
Fonte:www.anamba.org.br/anamba/Repositorio/0/Figuras/maos.jpg
Entrevista com um dependente de substância química lícita (cigarro, calmante e álcool)
Nome: Elvis Preston
Catarinense, 50 anos, engenheiro civil, casado e pai de três filhos.
Você faz uso de Psicotrópicos?
Lorazepam.
Há quanto tempo?
20 anos.
Por quê?
Decorrente de tratamento psiquiátrico.
O que o levou a procurar este tratamento?
Devido a sintomas muito desagradáveis, que mais tarde vim a saber através do psiquiatra, tratar-se da síndrome do pânico.
Disse-me o terapeuta que essa doença foi diagnosticada muito recentemente e é causada por problemas no sistema Neurotransmissor.
Você diz que usa o lorazepam há vinte anos. Ainda não está curado?
O lorazepam foi receitado como coadjuvante do medicamento principal para a síndrome do pânico, o anafranil. Estou curado da síndrome, abandonei o anafranil há muitos anos, porém, por mais que tenha tentado, não consigo deixar de usar o lorazepam.
Você já tentou parar?
Infelizmente desenvolvi a Síndrome de Dependência . Abandonar o medicamento leva à síndrome da abstinência: falta de ar, angústia, raciocíno perturbado e reflexos desconexos.
Além do lorazepam, você faz uso de outras substâncias psicotrópicas?
Fumo e bebo bebidas alcoólicas, porém nunca experimentei cocaína, maconha, ópio ou qualquer outra droga ilícita.
Com que freqüência você fuma e bebe?
Fumo uma carteira de cigarro por dia; álcool duas a três vezes por semana.
Você acredita que a dependência do lorazepam influi para o uso de cigarro e álcool?
Em absoluto, muito antes de ser dependente do lorazepam, embora com menos freqüência, já consumia bebidas alcoólicas. A grande maioria de meus amigos consome bebidas alcoólicas tanto quanto eu, e pelo que sei nunca usaram calmantes.
Quando e por que você começou a fumar?
Os Primeiros contatos com drogas, por vezes, acontecem muito cedo na vida. Em meu caso, já com seis anos pegava as bitucas apagadas de cigarro do meu pai para sentir o sabor exótico do fumo, por isso acredito que a genética tem algo a ver com esse meu péssimo hábito. Comprei minha primeira carteira de cigarro por influência dos amigos, num snooker bar, aos quinze anos e nunca mais parei.
Atualmente, sempre que estou desenvolvendo detalhes complexos de algum projeto, sinto a vontade de fumar aumentada. Ouvi dizer que a nicotina é um dos Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central.
Pela sua resposta vemos que há duas influências que o levaram a fumar. Fator familiar e amizade. Entre estes dois fatores, algum foi determinante?
Já me fiz esta pergunta também, não saberia apontar uma razão em especial, acho que as duas tiveram grau similar de influência. Meus filhos que já são adultos não fumam embora eu fume na presença deles. Por outro lado, minha irmã também fuma tanto quanto eu. Acredito que a sociedade dos anos sessenta, além de tolerar, incentivava o uso do fumo. Era comum fumar dentro de cinema e teatros, na sala de aula, em discursos, em reuniões, etc. Artistas e políticos famosos não dispensavam um cigarro diante das câmeras. Fumar era moda, sinal de machismo e inteligência.
O uso de lorazepam e de bebida alcoólica não é uma combinação perigosa?
Também tive esta dúvida e perguntei a meu médico, o qual me informou que o álcool potencializa o efeito da droga. Disse-me ainda que uma ou duas cervejas combinadas com 1mg de lorazepam pode ser tolerado por certo grupo de pessoas.
É o seu caso?
Sim, desde que não sejam ingeridas ao mesmo tempo. Exemplo: Tomo 1mg de calmante pela manhã e posso beber até três garrafas de cerveja à noite sem sentir nada de especial. Porém nos dias mais conturbados, onde aumento a dosagem de calmantes, mesmo bebendo pouco sinto uma mudança significativa em minha personalidade. Ainda existe o fator ânimo, beber por ocasião de uma comemoração e beber quando estou deprimido causam efeitos diferentes.
O lorazepam é um medicamento controlado, como você o adquire?
Mensalmente vou ao médico, ele prescreve a dosagem de 1mg pela manhã e 1mg à noite. No entanto, os médicos me aconselham a fazer um novo tratamento para livrar-me dessa dependência. O que eles nunca dizem claramente é que tratamento fazer.
Você já tentou tratamento alternativo?
Sim, acupuntura e Do In
Quais foram os resultados?
Decorrido dois meses de tratamento, por ocasião de uma consulta de avaliação, falei ao terapeuta que não senti qualquer melhora. Diante da resposta o médico disse, com sinceridade, que ele não era a pessoa indicada para resolver meu problema, e entregou-me o telefone de dois psiquiatras.
Em seu projeto de vida a libertação do uso dessas substâncias ocupa lugar de destaque?
Não fazer uso de qualquer substância nociva a meu organismo é uma vontade que se faz sempre presente. Certos dias acordo motivado, tomo um bom café, faço exercício físico e sinto como a vida é bela. Por vezes no decorrer deste mesmo dia as coisas mudam do azul para o vermelho. Pensamentos negativos, oriundos sei lá de onde, migram para minha consciência, e de modo inesperado voltam a escravisar-me. Já me preocupei muito com isso, pensei até em ser um simples e feliz artesão. Sei que tudo é uma fuga e que a única pessoa que poderá mudar-me serei eu mesmo. No estágio em que me encontro, abandonei a obsessão por uma vida totalmente regrada. Aprendi a conviver com meus altos e baixos. Aprendi que é pelo acúmulo de pensamentos positivos e o abandono dos negativos que conseguirei fazer com que a balança penda para o lado desejado. Digo a você que o livre arbítrio é um legado inerente ao ser humano. A própria vida do universo, pelo que sabemos, depende mais de eventos caóticos do que de uma suposta harmonia estática. Desta forma, por vezes partilho da idéia de que não vale a pena levar a vida tão a sério.
Ocorreu por ocasião das terapias para a cura da síndrome do pânico.
Meu psiquiatra, muito hábil em seus questionamentos, dissecou minha vida com muita clareza.
Provavelmente encontrou valores que eu nem me dava conta possuir.
Veja o que sucedeu:
Eu e minha esposa estávamos participando de um jantar solene na presença de várias autoridades, em determinado momento, o prefeito da cidade pediu a palavra e fez o seguinte pronunciamento: “Hoje será empossado um novo secretário municipal. Temos ao meu lado, o secretário da agricultura que foi indicado pelo partido XXX. Logo à minha frente, o Dr. Fulano que ocupa a pasta da saúde, é militante há vários anos pelo partido YYY. À minha direita está o engenheiro Elvis Preston que passará ocupar a Secretaria de Planejamento. Acho que isso nunca aconteceu, mas o Elvis não teve indicação política, quem o indicou foi seu psiquiatra.”
Todos riram...
Além de curar-me da síndrome do pânico, o amigo terapeuta conseguiu-me um bom trabalho. Poderia ser melhor?
fonte: http://proavirtualg10.pbworks.com
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